Enquadramento Histórico
- De norte a sul do País vários foram os aglomerados populacionais que dependiam da transformação das peles em couros. No que diz respeito à cidade de Guimarães, existem registos documentais que consubstanciam a forte ligação da população às operações de curtimenta que remontam ao séc. XIII.
A Ribeira da Costa/Couros logra o seu nome por nas suas margens se ter instalado um bairro industrial de curtumes, esta é uma actividade que necessita de água em abundância e essas condições foram encontradas nos arrabaldes da vila.
- “Nas poças, nos pelames, nos lagares ou nas tábuas de surrar, os curtidores e surradores entregavam os braços ao cumprimento de movimentos ancestrais, longe do horizonte visual dos moradores da zona muralhada de Guimarães, sempre avessos á convivência com os odores provenientes das operações morosas que tornavam as peles imputrescíveis. Era uma aversão sentida, mas consentida porque a actividade constituía uma mais-valia para o conforto e comodidade da vida doméstica, onde a casca de carvalho, após ter libertado o tanino, servia de combustível para a confecção dos alimentos ou para o aquecimento dos lares e constituía um excelente adubo para a fertilização dos solos agrícolas existentes a jusante do núcleo urbano, na Veiga de Creixomil.” (in Comércio de Guimarães, 29 de Março de 2006)
-
“Em meados do séc. XX ainda laboravam intensamente algumas unidades industriais, onde a transformação das peles em couro obedecia a práticas ancestrais conjugadas com algumas incursões tecnológicas. Em Julho de 1977, o núcleo industrial foi classificado de Imóvel Interesse Público pela, então Direcção-Geral do Património Cultural.” (in Comércio de Guimarães, 29 de Março de 2006)
Em 1980, uma iniciativa conjunta da Biblioteca Gulbenkian de Guimarães e Cineclube de Guimarães com o alto patrocínio do Instituto de Tecnologia Educativa, Fundação Calouste Gulbenkian e Câmara Municipal de Guimarães, dá origem a um filme sobre a Ribeira da Costa / Couros. Embora foquem todos os locais por onde corre esta ribeira a grande incidência desta curta metragem centra-se na Zona de Couros.
No ano de 2001, no quarteirão de Couros, acontece uma primeira intervenção com a construção Complexo Multifuncional onde está instalada a Pousada de Juventude, o Cybercentro e a cooperativa de apoio social Fraterna, com centro de dia e jardim-escola.
É também neste ano que a Zona de Couros fica inscrita, na Lista do Património Mundial da UNESCO, como zona tampão da área classificada. No ano de 2006, nasce uma parceria entre a Câmara Municipal de Guimarães e a Universidade do Minho – CampUrbis – projecto ambicioso que tem como alvo a recuperação de 10ha de área no quarteirão de Couros – zona da cidade privilegiada pela sua localização central.
Com o projecto CampUrbis abrem-se as portas a novos projectos a desenvolver nesta zona, um deles incide na Ribeira da Costa/Couros. Esta ribeira apresenta-se como um eixo estruturante neste bairro que sempre dependeu da água para a realização da sua principal actividade – indústria de curtumes, com grande prejuízo para o seu bom estado ecológico.
O projecto de Revitalização e Valorização da Ribeira da Costa/Couros apresenta-se assim como um projecto que visa a recuperação ambiental, ecológica e paisagística desta linha de água.
Historicamente este troço da ribeira da Costa/Couros é o mais importante, no entanto, pela sua localização, a ribeira sempre serviu a cidade; umas vezes como local de despejo de esgotos (por isso é que também é conhecida como “merdário”), outras como fonte de água para a rega agrícola, para os tanques públicos, etc.
Como já foi referido, a ribeira da Costa/Couros nasce na Serra da Penha, local importante ao longo dos anos ao nível na captação de água, mais uma vez se constata que desde a nascente este sistema ribeirinho é utilizado para servir a população da cidade. O Parque da Cidade é uma antiga zona agrícola onde o sistema ribeirinho era usado como principal fonte de água para a rega dos campos. Ainda se podem identificar algumas estruturas em pedra que foram preservadas, que se julga serem tanques e/ou bebedouros para os animais.
À medida que nos vamos aproximando da zona mais urbanizada do percurso desta linha de água, podemos verificar que existem várias indústrias que se foram instalando ao longo das margens do ribeiro, não só as de curtumes, mas também as têxteis. Á medida que a cidade de Guimarães foi crescendo, vários troços deste sistema ribeirinho foram sendo canalizados de modo a satisfazer as necessidades urbanísticas de uma cidade em franco crescimento.
Passando então a zona central do sistema ribeirinho, que é a parte em que podemos identificar maior pressão sobre o sistema, a ribeira encaminha-se para a Veiga de Creixomil.
A Veiga de Creixomil apresenta-se como um dos últimos sistemas agrícolas na cidade, nesta zona a ribeira é ainda utilizada como fonte de água para a rega dos campos agrícolas. As margens encontram-se, na sua maioria, degradadas, a galeria ripícola é inexistente em grande parte pela forma como é praticada a agricultura.
No entanto, é nesta zona e no Parque da Cidade onde podemos identificar uma maior naturalidade associada ao sistema ribeirinho.