Discurso do Presidente da Câmara Municipal de Guimarães | Dia 24 de Junho de 1128 – Dia Um de Portugal
A Batalha de S. Mamede foi um acontecimento, na verdade, memorável, porque fez explodir a força de um movimento autonomista que havia séculos se gerava nestas terras. Uma vez desabrochado, não cessou de aumentar e se fortalecer até criar esta Nação que tem desafiado os séculos. Assim nasceu a nossa Pátria, a fonte onde haurimos a nossa cultura, o quadro que está intimamente ligado à nossa consciência de pertencermos a uma sociedade com características próprias. Melhor ou pior, temos uma personalidade nacional que se foi formando ao longo dos séculos. Por isso mesmo não podemos deixar de nos sentirmos fascinados com as nossas próprias origens.
O excerto com que inicio este discurso é retirado de uma conferência proferida por José Mattoso, em 1978, intitulada “A Primeira Tarde Portuguesa”.
É da narrativa do tempo histórico vivido que exultamos, a partir deste lugar e desta data, o ato fundador da construção coletiva da nossa identidade nacional.
24 de junho de 1128 é, a partir de terras de Guimarães, a data da primeira e mais importante batalha do nosso primeiro Rei. A Batalha de S. Mamede resultou de uma ação coletiva e foi um ato político fundamental. Foi a vitória de D. Afonso Henriques que deu início a uma jornada que não mais seria travada para a fundação do país que hoje é Portugal.
Com a sua determinação e coragem, desenhou, no mapa do território que lhe parecia insuficiente para a grandeza do seu povo, os primeiros esboços do contorno que hoje afirma Portugal no mundo.
Para fundar o país, foram necessários atos políticos, outras batalhas ou o reconhecimento clerical, mas há uma certeza inquestionável na construção coletiva e histórica: Em Guimarães reside um pulsar que não prescinde da certeza de que “Aqui Nasceu Portugal”, aqui se cuida da memória do Primeiro Rei D. Afonso Henriques, e aqui teve lugar o ato fundador do processo de nacionalidade.
É nesta forte identidade coletiva, neste orgulho fundador da nacionalidade, nesta paixão pela nossa história, que reside a força maior da celebração que engrandecemos a cada ano que passa. É, pois, inteiramente compreensível que Guimarães se encha de orgulho destas nossas origens, associadas indelevelmente à Fundação de Portugal, e pugne para que o dia 24 de junho seja feriado nacional, comemorando as origens da nossa Pátria.
Caminhamos para 2028, ano em que assinalaremos 900 anos da Batalha de São Mamede, e é neste caminho e nestas premissas, que estamos certos de sermos capazes de envolver todos os portugueses, na perpetuação e celebração da memória e da construção do país. 24 de junho é o feriado do Berço da Nação, mas queremos que seja celebrado como o Dia Um de Portugal - por Portugal!
Olhando o passado, podemos ver, no presente, o quanto soubemos construir enquanto comunidade, pois continua a ser no coletivo que Guimarães se desenvolve e consolida.
Hoje, percorrida a estrada que nos conduz ao futuro, somos um território que ostenta um lugar importante nas histórias mundial e europeia: completamos este ano 20 anos como Património Cultural da Humanidade, fruto da recuperação do nosso Centro Histórico. Fomos, em 2012, reconhecidamente, uma bem sucedida Capital Europeia da Cultura. Soubemos ser Cidade Europeia do Desporto em 2013 e classificámo-nos nas cinco primeiras cidades que se candidataram ao título de Capital Verde Europeia 2020.
Temos orgulho na nossa história, honramos o lugar que ocupamos no presente, mas não perdemos de vista a ambição, a coragem e a tenacidade que foram capazes de fundar um país.
Ao património classificado queremos juntar a memória do Trabalho, da Zona de Couros, dar sustentabilidade à Cidade Europeia de Cultura através da prestes a inaugurar Escola de Artes Visuais, Artes Performativas e Música de Guimarães, e caminhar, sem retorno, para a sustentabilidade ambiental e descarbonização, desafiando cada vimaranense a ser um eco-cidadão, alterando comportamentos e fruindo mais da natureza.
Estes três vetores, o Património, a Cultura e a Sustentabilidade, só fazem sentido se focados no cidadão, assentes no saber, projetando uma ideia de sociedade e de cidade, mais feliz. Sim, feliz. Por muito prosaico que vos possa parecer.
Queremos cidadãos mais felizes, mais conscientes do comunitário, apreciadores do belo e protetores dos recursos de todos. Queremos o desenvolvimento económico, assente na ciência, ao serviço do bem-estar humano, da qualidade de vida e da resolução dos problemas sociais.
Guimarães pode e deve cumprir ainda um outro importante papel, dada a sua implantação geográfica. Situando-se num ponto de convergência que é limiar de acesso à litoralidade para um conjunto de centros urbanos mais interiores, Guimarães pode ser essa porta de entrada, através de uma ligação ferroviária dedicada à futura estação de alta velocidade, garantindo para este território alargado, coesão e competitividade económica e social.
Como D. Afonso Henriques, que lutou em várias frentes e contra vários inimigos, também aqui se travaram fortes batalhas!
Refiro-me ao combate à pandemia provocada pela Covid-19. Um vírus que é um inimigo invisível. Um vírus que quisemos e queremos derrotar, porque, tal como em S. Mamede, “Aqui, as batalhas são para vencer”. Cumpre-nos, pois, exaltar o forte sentido de pertença e de solidariedade de todos os Vimaranenses, sem exceção. Fazemo-lo agora, recordando as medalhas honoríficas que entregámos em 2020, e que distinguiram o mérito do coletivo.
Atribuímos há um ano Medalhas de Mérito Municipal Humanitário aos grupos sociais e profissionais que estiveram na linha da frente no combate à COVID-19: profissionais de saúde, voluntários e ainda profissionais dos serviços essenciais.
Corajosamente, não cederam ao medo do desconhecido e assumiram a frente deste combate coletivo, colocando todo o seu empenho na continuidade do funcionamento de serviços fundamentais para os cidadãos e no apoio a quem mais sofreu com a pandemia, nomeadamente os mais doentes e os mais idosos.
Em 2021, as medalhas honoríficas atribuídas reforçam os princípios de altruísmo que cultivamos na nossa comunidade: só através da atenção que dedicamos ao próximo é que é possível construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Daí que exaltamos novamente o coletivo, ao distinguirmos com Medalhas de Mérito a Rede Social de Guimarães, uma estrutura agregadora do imenso tecido social do Município, fundamental para a coesão territorial e social, e a Escola, esse pilar insubstituível de empoderamento do cidadão de amanhã, alicerce de uma sociedade mais benevolente e solidária, que certamente consolidará Guimarães como Cidade de História feita futuro.
Com a distinções de 2020 e 2021, quisemos demonstrar que reconhecemos que o futuro só é possível se não prescindirmos do que nos é mais valioso: as gentes de Guimarães, cujo carácter, mais uma vez, hoje e aqui, homenageamos.
Melhor pretexto não poderia ter para me dirigir, neste momento, a Vossa Excelência, Senhor Presidente da República. A Medalha de Honra do Município de Guimarães que lhe foi atribuída em Assembleia Municipal de 19 de junho de 2019, e que hoje, lhe foi entregue, distingue o rigor e a exigência que coloca no exercício das suas funções, em prol de Portugal.
Mas distingue particularmente a sua atenção com o sofrimento e a injustiça, o seu sentido de solidariedade, a forma como dirige os seus afetos, sejam eles de reconhecimento do mérito individual ou coletivo, sejam eles como palavra de conforto ou de reivindicação de uma atenção que se exige perante a adversidade. Numa sociedade em que o egoísmo e a indiferença imperam, ter como premissa fundamental o respeito pela dignidade da pessoa humana, pela decência e respeito do nosso quotidiano social, não pode deixar de merecer a nossa profunda admiração.
Encontrar pontes onde muitos vêm apenas rios de diferença, encontrar cooperação onde tantos apenas vêm apenas competição, encontrar humanismo e tolerância onde alguns vão procurando indiferença ou até, pior, o ódio.
Invoco este excerto de poema de Fernando Pessoa, sobre Afonso Henriques, para que a inspiração do exemplo do nosso Rei Fundador se estenda com toda a força a Sua Excelência Senhor Presidente da República Doutor Marcelo Rebelo de Sousa,
“ Pai, foste cavaleiro,
Hoje a Vigília é nossa
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força. “
Aqui acreditamos ter herdado a força, a coragem, a ambição, a paixão e o espírito conquistador de D. Afonso Henriques, Primeiro Rei de Portugal. Acrescentamos-lhe a tolerância, o humanismo e a diversidade que uma sociedade contemporânea, culturalmente consciente, ostenta.
Usamos o presente para cuidar do futuro, celebrando os feitos imortalizados na História.
Acácio Lino pintou “a primeira tarde portuguesa”, José Mattoso perpetuou-a em título de um importante escrito e Alexandre Herculano na história de Portugal do século XIX já o expressava com fulgor, sobre a Batalha de São Mamede que denomina de Revolução:
num só dia de combate o poder supremo, que o moço príncipe tanto ambicionara lhe caíra nas mãos (...) o sentimento de independência nacional adquirira novas forças com a vitória em Guimarães.
Ostentamos com orgulho que “Aqui Nasceu Portugal”, celebramos com as nossas gentes a fundação da nacionalidade, e do Berço, para a Nação, afirmamos o imperativo categórico de preservar e honrar a história do nosso país. 24 de junho é o Dia Um de Portugal.
O 24 de Junho não comemora apenas Guimarães. Comemora um país! Comemora um Povo!
Viva o 24 de junho! Viva Guimarães! Viva Portugal!
Domingos Bragança
Presidente da Câmara Municipal de Guimarães
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