Feira Afonsina • Do Condado ao Reino
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Num período conturbado da Península Ibérica, a disputa territorial entre mouros e cristãos culminou, no final do séc. XI, após a conquista de Toledo pelos cristãos, num pedido de auxílio por parte dos reinos muçulmanos da Península Ibérica aos almorávidas, provenientes do norte de África.
D. Afonso VI, após investidas almorávidas, inseridas num movimento fundamentalista muçulmano, pediu auxílio militar a cavaleiros francos. É neste contexto que surge D. Henrique, descendente direto dos reis de França e membro do ducado francês da Borgonha, era o mais novo entre seus irmãos, não podendo por isso adquirir títulos ou fortuna por herança.
D. Henrique colocou-se ao serviço de D. Afonso VI de Leão, atraído pelas riquezas que proporcionam a conquista de novos territórios e o desejo de combater os muçulmanos. O Imperador D. Afonso VI, como recompensa pelos serviços prestados por D. Henrique, concedeu-lhe a mão de D. Teresa, sua filha ilegítima, e como dote o Condado Portucalense, agrupando os antigos condados de Portucale e de Coimbra.
Da união de D. Henrique e D.Teresa, entre outros filhos, nasceu Afonso Henriques, cerca de 1109, em plena Guerra da Reconquista, tendo sido entregue a D. Egas Moniz, que o instruiu nas lides da guerra e da governação.
Com a morte do Conde D. Henrique, quem assumiu os destinos do condado foi D. Teresa, que aliada ao galego Fernão Peres de Trava, deu início à concessão de privilégios a diversos aliados provenientes da Galiza, em detrimento dos barões do Norte do condado, que sempre estiveram ao lado do finado D. Henrique nas lutas contra os mouros.
Insatisfeitos com as decisões de D. Teresa e seu aliado, os portucalenses revoltaram-se com D. Teresa e passaram a apoiar o jovem infante Afonso Henriques, que se intitulou Cavaleiro, com o aval de D. Teresa, na catedral de Zamora em 1125, numa cerimónia reservada a reis e filhos de reis.
Tal ato, constituiu verdadeiramente um sinal das intenções de D. Afonso Henriques se tornar independente de seu primo, o imperador D. Afonso VII, que em 1127 impôs cerco a Guimarães com o intuito de submeter seu primo como seu vassalo. Egas Moniz conseguiu que o assédio fosse levantado, sob a promessa de D. Afonso Henriques prestar vassalagem exigida pelo imperador. O cerco foi uma dura prova para a população de Guimarães. D. Afonso Henriques decide premiar a resistência, o apoio e a lealdade do povo de Guimarães e por isso, em 27 de abril de 1128, além de confirmar o foral dado pelo seu pai, concede novos direitos aos vimaranenses como forma de agradecimento. Afastada esta questão, D. Afonso Henriques e os nobres que o acompanham tentam resolver o problema interno. O conflito com D. Teresa e a família Trava é solucionado com a Batalha de S. Mamede que teve lugar a 24 de junho de 1128. D. Afonso Henriques sai vitorioso e é o momento em que começa a governar o condado. As tréguas com o primo deixam-lhe disponibilidade para enfrentar os mouros de modo mais efetivo, ganhando território na fronteira sul, fundando em 1135 o Castelo de Leiria, importante no contexto da Reconquista. No afã desta tarefa D. Afonso Henriques acorre ao sul onde tem lugar a Batalha de Ourique em 1139, famosa pelo seu simbolismo e pelo seu carácter lendário. Saindo vitorioso, apesar da inferioridade em número de tropas, será a partir deste momento que
D. Afonso Henriques passa a intitular-se Rei. A ambição de D. Afonso Henriques levou-o a provocar o primo quando invade a Galiza com o intuito de a conquistar e a resposta de Afonso VII foi rápida. Acordaram em decidir a peleja através de um bafordo que ficou conhecido pelo Recontro de Valdevez e que deu a vitória a Afonso Henriques em 1141 e às suas hostes.
Para que o título de rei fosse reconhecido era necessária a aprovação da Santa Sé e que a paz fosse estabelecida com o imperador Afonso VII e assim se iniciam negociações. É neste contexto que o legado do Papa D. Guido de Vico faz a mediação entre as partes que culminam com a reunião em Zamora em 1143 e com o consequente Tratado no qual Afonso VII concordou em que o Condado Portucalense passasse a ser reino, tendo D. Afonso Henriques como seu rei. Relativamente à Santa Sé, D. Afonso Henriques declarou-se seu vassalo, não tendo atingido os seus objetivos, pois o Papa apenas permite o título de Dux e compromete-se a enviar anualmente uma quantia em ouro.
Apesar destas questões, a Reconquista prosseguia e em 1147 toma Santarém e Lisboa aos mouros, ato fundamental de consolidação do território. Os anos que se seguiram foram de relativa tranquilidade e de organização administrativa e religiosa, com uma intervenção muito importante de D. João Peculiar, arcebispo de Braga.
D. Afonso Henriques, em 1169, parte em auxílio de Geraldo sem Pavor que já tinha dado prova do seu valor em Évora e que montara cerco àquela cidade. Foram surpreendidos pelas tropas leonesas que queriam impedir a conquista da cidade por D. Afonso Henriques que, na fuga, parte uma perna. Após Badajoz, a carreira militar de D. Afonso Henriques terminou. A administração do território ficou a cargo de D. Sancho e sua irmã D. Teresa, que, em corregência, se dedicou à concessão de forais, à fixação das populações e à organização do municipalismo. Em 1179, o Papa Alexandre III concede a D. Afonso Henriques a Bula Manifestis Probatum que reconhece Portugal como reino independente e como seu Rei
D. Afonso Henriques.
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