'Uma História feita Futuro' - Discurso do 24 de Junho - Batalha de S. Mamede - Dia Um de Portugal
Guimarães não esquece a Batalha de São Mamede, Dia 1 de Portugal. Celebrá-la é celebrar Portugal.
Uma História Feita Futuro
Grande Auditório Francisca Abreu - Centro Cultural Vila Flor
24 de junho de 2022
Que importância atribuir a uma batalha que deu início à história de um povo e de um país milenar? A resposta à pergunta formulada só poderá ser uma: a importância desta data histórica, que dá início à formação de Portugal, é iniludível. Para Guimarães, e para Portugal. Em 2028, terão passado 900 anos deste grande feito que foi a Batalha de São Mamede, e não deixa de ser singular que, numa altura em que comemoramos o passado, estejamos a olhar para o futuro. Mas não foi olhar para o futuro o que fez o infante Afonso Henriques? Quando em 24 de junho de 1128 o que estava em causa era uma nova ordem para o seu povo e território? A relevância de S. Mamede deverá ser procurada no papel decisivo que desempenhou enquanto acontecimento que possibilitou a reconfiguração do cenário político no interior do Entre-Douro-e-Minho (e, em última análise, no conjunto do Noroeste hispânico), promovendo, desta forma, uma nova realidade territorial e humana. Uma nova realidade que foi levada até às derradeiras consequências, impulsionando a sua já secular autonomia no seio da monarquia de Leão e Castela. A batalha de S. Mamede representa, em suma, um momento de rutura, com o qual se encerra um tempo histórico, o do Condado Portucalense, e outro se enceta, o do Reino de Portugal. Nove séculos passados, o que devemos celebrar não é somente um acontecimento concreto, uma batalha específica, mas, sobremaneira, o conjunto da realidade histórica que esse momento de viragem e essa batalha potenciaram, ou seja, a nação portuguesa que hoje integramos e constituímos.
Se, como todos os reinos medievais, Portugal resultou de um processo de construção complexo, longo e dilatado no espaço, também o futuro de um país, de uma região ou de uma cidade – ou a sua permanente construção – é um processo complexo, longo e dilatado no tempo. E é de futuro que hoje vos quero falar. Desde logo, do futuro destas comemorações.
Porque o dia de hoje é importante para Guimarães e para Portugal, criaremos uma Comissão que se encarregará de preparar as comemorações dos 900 anos da Batalha de São Mamede. Uma Comissão composta pelas instituições, responsáveis políticos e personalidades civis mais relevantes para o cumprimento do objetivo a que nos propomos. E ainda que 2028 esteja num horizonte temporal distante, a preparação das comemorações será longa, e necessitará de um permanente acompanhamento. Uma Comissão que, na realidade, se desdobrará em duas: uma Comissão Científica, que envolverá os mais reputados medievalistas das instituições de ensino superior e de investigação do país, e uma Comissão de Honra, onde estarão representadas entidades e personalidades relevantes das Histórias de Guimarães e de Portugal. As comemorações dos 900 anos da Batalha de São Mamede serão um momento alto e um testemunho do amor que os Vimaranenses têm pelas suas origens, pela sua Terra. Serão também um momento, tal como o de hoje, de preservação da memória coletiva, muitas vezes condicionada pelo seu contrário, o esquecimento.
Guimarães não esquece a Batalha de São Mamede, Dia 1 de Portugal.
Celebrá-la é celebrar Portugal.
Guimarães é, pois, uma História Feita Futuro. E porquê?
Porque quase 9 séculos passados, continuamos a olhar para este momento seminal da nossa história, que nos inspira na construção do nosso futuro. Uma inspiração que mobiliza toda a vontade coletiva para prosseguirmos um caminho consensualizado na visão de uma boa sociedade, estruturada nos pilares da educação, ciência e cultura. E a nossa visão do futuro que almejamos não prescinde da premissa basilar da sustentabilidade e da preservação ambiental.
Se a reconfiguração geopolítica espoletada pela Batalha de São Mamede iniciou o processo conducente à criação de Portugal como nação independente, será a agenda para o desenvolvimento sustentável, introduzida em Guimarães em 2013, que trilhará o caminho rumo à Sustentabilidade. Um caminho já iniciado, que mereceu o reconhecimento da União Europeia através da recém-escolha de Guimarães para a “Missão Cidades”, um programa que integra um coletivo de 100 cidades-piloto em toda a Europa, que servirão de modelo para a Neutralidade Climática.
Guimarães é uma de três cidades em Portugal a receber esta distinção, a par de Porto e Lisboa. É um grande orgulho e uma grande responsabilidade, mas também um grande desafio. Um grande desafio a ser vencido através de uma sólida consciência ambiental dos cidadãos – transformadora e com amplas implicações sociais –, para a qual devem concorrer projetos de educação e consciencialização ambiental que se alimentem da vontade de mudança do novo cidadão do século XXI: o ecocidadão.
Ecocidadão que será fundamental para o sucesso da nova candidatura a Capital Verde Europeia, que está em preparação, e que tem como conceito-chave o “Corredor Bio Cultural” - Penha – Cidade – ecovias do Ave, Selho e Vizela -, um conceito integrador do património natural, do património edificado, do habitat e da comunidade.
Se a cidade do Ecocidadão é a Ecocidade, o seu território não deve ser pensado como lugar de densidade, mas como “cidade suave”, que é diversa, que é lugar de bem-estar, de inovação, de criatividade e de tolerância. Uma “cidade suave” que precisa de um sistema científico robusto e aberto à sociedade. Uma “cidade suave” que precisa também de ser uma cidade inteligente. Uma “cidade inteligente”, que terá também de ser uma cidade criativa, precisa de cidadãos conscientes da necessidade de novas práticas e modos de viver, e que precisa de vontade política de fazer sempre mais e melhor. Guimarães tem tudo isso.
Uma cidade que se quer construir com base nestes pressupostos deve ser também capaz de promover uma mobilidade baseada na intermodalidade, promovendo vários meios de transporte que possam responder, em determinado tempo e espaço, a diversas necessidades. O recente estudo sobre mobilidade que foi apresentando publicamente aponta a intermodalidade de transporte como a mais inteligente das soluções. A intermodalidade do eixo ferroviário, do Metro Bus e/ou Metro de Superficie, do Teleférico no perímetro urbano da cidade, dos miniautocarros elétricos, dos percursos cicláveis e pedonais, apresenta-se como o futuro na mobilidade.
Mas o desenvolvimento de uma cidade não se pode circunscrever à sua geografia, motivo pelo qual se definiu a mobilidade como o foco das políticas públicas do Quadrilátero Urbano e das CIMs do Ave e do Cávado. E porquê? Porque Guimarães, Braga e Famalicão estão no topo dos municípios mais exportadores do País. Porque a sua importância económica é evidente. E a demográfica, também. Porque o seu ecossistema de ciência, composto por Universidades, IPCA e Centros de Investigação, é excecional. No espaço geográfico ocupado pelos quatros municípios, vivem aproximadamente 650.000 pessoas, e nas duas CIMs o número de habitantes é de cerca de 1 Milhão.
Deste panorama, resulta uma evidente necessidade: um sistema de mobilidade por Metro de Superfície que interligue as quatro cidades e que possibilite a ligação destas à futura estação ferroviária de alta velocidade. Deve ser, este projeto, um desígnio regional e nacional, tendo em conta o contributo positivo líquido desta região para a economia nacional, e tendo em conta o contributo para o fomento dessa mesma economia que um sistema desta natureza traz. A par da coesão territorial que se promove, abrem-se novos caminhos para a Europa.
A nossa forte convicção nos pilares da educação, da ciência e da cultura não se traduz num discurso sofista, logo retórico. Traduz-se no forte investimento público e no conjunto de parcerias que estabelecemos com as diversas entidades e instituições. A nossa forte convicção é visível e dá frutos. A recente requalificação do Teatro Jordão e da Garagem Avenida, que permitiu a instalação dos cursos de Artes Performativas e Artes Visuais da Universidade do Minho, assim como a Escola de Música do Conservatório de Guimarães, é uma aposta num caminho sem retorno que se sustenta na Arte e na Cultura.
Guimarães é, assim, um espaço favorável à criatividade e à inovação, cada vez mais aberto à novidade, sempre contando com o seu vasto sistema associativo para o cumprimento destes objetivos.
O desenvolvimento do Hub, em medicina regenerativa e biomateriais, no Avepark – Parque de Ciência e Tecnologia, impulsionará a investigação e conhecimento e a aplicação industrial. Este Centro de investigação faz parte do Roteiro Nacional de Infraestruturas Científicas promovido pela FCT e compreende o edifício atual do grupo 3B’s da Universidade do Minho e o novo edifício “Instituto Cidade de Guimarães”. A esta infraestrutura, unicamente dedicada à investigação, foi dado o estatuto de Departamento/Escola - “I3Bs- Instituto de Investigação em Biomateriais, Biodegradáveis e Biomiméticos”.
O desenvolvimento de Guimarães com base na educação, ciência e cultura tem a realidade como resposta. Um apelo concreto para que Guimarães cresça como “Cidade Universitária”, lançado à Universidade do Minho, traduziu-se na criação de dois novos e importantes cursos: o da Ciência dos Dados e o da Engenharia Aeroespacial. A Câmara Municipal correspondeu a esta aposta da Universidade, adquirindo a antiga Fábrica do Arquinho, com o compromisso de a reabilitar e lá construir as instalações que serão cedidas à Escola de Engenharia. Na mesma senda de cooperação estratégica, também a antiga Fábrica do Alto, em Pevidém, foi adquirida. Será lá que funcionará a futura Academia de Transformação Digital, uma estrutura para o Conhecimento Aplicado e para a reconversão e reforço das competências profissionais.
Ainda no âmbito da cooperação com as Universidades, a futura Escola-Hotel do IPCA - Instituto Politécnico do Cávado e do Ave – que funcionará na antiga Casa do Costeado, na Cruz de Pedra, e que a todo o momento terá a sua obra iniciada, reabilitará assim um espaço lindíssimo da cidade. Este é um forte investimento público que tem como objetivo central a capacitação dos nossos concidadãos, num domínio com crescente importância e valorização. Através de melhores qualificações formativas, e da transferência para a economia do novo conhecimento científico que aí será gerado, robusteceremos as nossas empresas e o trabalho mais qualificado, e mais remunerado.
A forte aposta na Educação é bem visível nas inúmeras requalificações de edifícios escolares, como será agora a Escola Básica da S. Torcato, bem como nos inúmeros projetos desafiadores e empoderadores das nossas crianças e jovens.
Guimarães é um território fortemente atrativo, por tudo o atrás dito. Uma forte atratividade que se sente na crescente procura de habitação, de alojamentos para estudantes e de alojamento nos nossos hotéis. Uma forte procura que está a gerar a atenção e a resposta dos investidores privados. Mas também a Câmara Municipal, através da revisão do Plano Diretor Municipal e do lançamento de concurso de aquisição de habitação a custos moderados, em fase de concurso público, está a dar a resposta que se exige, e de que Guimarães necessita.
Refiro-me agora a alguns projetos já em curso e para os quais o Plano de Recuperação e Resiliência será importante fonte de financiamento: o aumento de residências universitárias da Universidade do Minho, através da reabilitação da antiga Escola de Santa Luzia, e a construção de um novo edifício no Avepark, dois projetos que contribuirão para um aumento significativo da oferta pública de alojamento para estudantes. No que diz respeito ao aumento da oferta hoteleira, diversos processos de licenciamento estão já em curso, bem como a construção, a decorrer em bom ritmo, de um Hotel, que será uma referência no domínio da sustentabilidade ambiental.
Ao nível do capital simbólico e social, o genius loci vimaranense (o caráter da cidade) é cada vez mais aberto e cosmopolita, sem que a coesão e a unidade, em torno da pertença identitária, como cidade histórica de importância fundacional para Portugal, seja perdida. O fervor com que as gentes de Guimarães vivem a sua cidade é um património intangível inestimável. Estas diferentes camadas com que se constrói o território, aliando o passado a uma visão de futuro, projeta a imagem de uma cidade “feita futuro”, que não ficou amarrada aos seus epítetos mais vetustos.
Se em 1128, foi a batalha da independência a que foi travada, hoje, com olhos postos no passado e no presente, olhamos para a batalha do futuro, confiantes que vamos conseguir alcançar a vitória.
Quero deixar, agora, uma palavra às ilustres personalidades que hoje homenageamos. A proposta de atribuição de Medalhas de Mérito Municipal a Teresa Gama Brandão (Mérito Social), Jorge Nascimento (Mérito Cultural), Ernesto Soares (Mérito Humanitário) e Vasco Silva de Faria (Mérito Artístico), no âmbito das Comemorações do 24 de Junho – Dia Um de Portugal, foi deliberada por unanimidade na passada reunião de Câmara de 20 de junho. O reconhecimento dos relevantes serviços por vós prestados à comunidade vimaranense é inteiramente merecido. Cada um de vocês, no vosso papel específico, contribui para fazer da nossa cidade um território onde é bom viver. O altruísmo e o sentido humano dos vossos atos, o vosso empenho e saber, a vossa entrega despretensiosa, são também virtudes que reconhecemos como fundamentais para o desenvolvimento de uma comunidade assente em valores, esclarecida e sensível. Para a arte, para música, para o belo, para a solidariedade. Uma conceção moral da vida a que Aristóteles chamava a “vida boa”. Estamos-vos agradecidos e continuamos a contar convosco para continuarmos a construir uma comunidade com fortes valores éticos, de responsabilidade social em que todos contam no elevado respeito da dignidade da nossa igual condição humana.
Termino a minha intervenção, dirigindo-me a Vossa Excelência, Senhor Ministro da Administração Interna. Na sessão solene de 2021, na presença do Sr. Presidente da República, tive a oportunidade de fundamentar a justeza que constituirá a atribuição da classificação de feriado nacional ao dia 24 de Junho. Releio uma passagem do meu discurso, que reforça a convicção de todos os Vimaranenses neste propósito coletivo, e estou certo que Vossa Excelência nos ajudará neste propósito:
“Ainda que a memória possa ser utilizada para reconstruir os fatos históricos a partir de ressignificações individuais, em Guimarães há um pulsar coletivo que não prescinde da ideia de que “Aqui Nasceu Portugal”, e de que o 24 de Junho é o seu Primeiro Dia. Um pulsar coletivo que queremos ver estendido a todo o país.”
Viva o 24 de Junho de 1128 - DIA UM DE PORTUGAL.
Viva Guimarães, Viva Portugal.
Domingos Bragança
Presidente da Câmara Municipal
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