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MAÇÃZINHAS E DANÇAS SÃO PROGRAMA PARA ESTA 3ª FEIRA
O Pregão da Academia Vimaranense foi recitado na tarde de ontem, 5 de Dezembro, nas ruas e praças de Guimarães pelo jovem Nicolino Domingos Garcia Freitas. As Festas Nicolinas prosseguem hoje com a realização das Maçãzinhas e das Danças de São Nicolau e encerram amanhã, dia 7 de Dezembro com o Baile.
MAÇÃZINHAS E DANÇAS SÃO PROGRAMA PARA ESTA 3ª FEIRA
O Pregão da Academia Vimaranense foi recitado na tarde de ontem, 5 de Dezembro nas ruas e praças de Guimarães pelo jovem Nicolino Domingos Garcia Freitas, da Escola Secundária Martins Sarmento e Vice-Presidente da Comissão de Festas Nicolinas de 2005.
Da autoria de Alberto Meireles Graça, o Pregão deste ano foi dedicado pelo autor e pela Academia a "Hélder Rocha e a quantos o acompanharam na defesa das nossas Tradições".
As Festas Nicolinas prosseguem hoje (6 de Dezembro) com a realização das Maçazinhas e das Danças de São Nicolau (Centro Cultural Vila Flor). As Nicolinas encerram no dia 7 de Dezembro com o Baile.
SOBRE AS MAÇAZINHAS :
(Excertos do livro "Guimarães e as Festas Nicolinas", Lino Moreira da Silva, 1991)
Pelas Nicolinas, às raparigas abria-se uma excepção. (...) O controlo que habitualmente era exercido pela família sobre a jovem, porque chegara a quadra das Nicolinas, abrandava necessariamente, e admitia-se para ela alguma tolerância.
(...)
E era assim que, pelas Nicolinas, o relacionamento humano entre rapazes e raparigas acontecia menos timidamente que no quotidiano, com especial destaque para a tarde sempre memorável do 6 de Dezembro, dia de São Nicolau - como se porventura se estivesse a operar um outro, e não menos extraordinário, milagre do Santo.
(...)
Ora o rapaz, oferecendo a maçã à rapariga, era como se estivesse a desafiá-la, para que ela se eximisse às apertadas vigilâncias desses tempos e desse ouvidos aos anseios do seu coração.
E poderia não acontecer uma correspondência afectiva directa daquele homem que estendia na ponta da lança a maçazinha corada a uma determinada mulher, mas ficava-se o simbolismo do acto: eram os Estudantes de Guimarães, todos eles à uma, a dirigir um convite de afectuosidade e simpatia às Damas de Guimarães, a todas as Damas !
(...)
Os prémios do combate davam-nos as Damas aos Estudantes, vestindo os fatos de dias de festa, durante o desenrolar do cortejo, do alto das suas janelas. Era de lá que recebiam a dádiva dos Estudantes, as maçãs miudinhas, aproveitando o vaivém das compridas lanças para retribuir com pequeninos presentes, e como prova de carinho e consideração, a oferta das maçãs. Esses pequeninos presentes eram do género de cigarros, cigarreiras, chocolates, garrafinhas, bugigangas de estimação, botões de punho, gravatas, material de uso escolar, livros, canetas, pequenos objectos em prata, como sinetes, corta-papéis, etc.
Hoje os presentes já se mostram de cunho mais modesto, abundando sobretudo os chocolates, os rebuçados, as miniaturas de garrafas, as caricas, e outras coisas assim.
(...)
O PREGÃO DA ACADEMIA VIMARANENSE 2005
Dedicado pelo Autor e pela Academia a Hélder Rocha e a quantos o acompanharam na defesa das nossas Tradições.
Liberto na palavra, na velha Tradição
De só tua vontade eu vir dizer ao Povo
E trazer na verdade ao Berço da Nação
O alerta vital que faça na mudança
Fugir esta Nação a trágico destino
Mantendo sempre viva a basilar esperança
De reviver no mundo o sestro nicolino!
O sestro de viver a vida no estudo
Que cada vez pior aí se fantasia
Na cabeça solene de quem sabendo tudo
Não sabe ao Povo dar a mínima alegria
Num sinal de futuro e numa luz de Esperança
Um rumo no devir, seguro no trabalho
Um gesto a reverter esta desconfiança
De ser o eleitor apenas um paspalho…
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Que cesse de uma vez a ganância do voto
Dos que fazem oficio na luta do Poder
E que ao alcançá-lo lançam em saco roto
Mentirosas promessas que andaram a fazer
Ficando delas só o eco e o registo
Na triste e amarela folha de um jornal!
Este o descaramento torpe e nunca visto
Que lesa o cidadão, lesando Portugal…
Pois o Santo lhes diz: tenham vergonha
E metam em chinelos os pés mansos
Porque o Povo conhece a vossa ronha
E não suporta mais jogo de tansos!
O que resulta destas brincadeiras
Na resposta final de um Povo fino
É vermos a Fatinha em Felgueiras
E às portas de Lisboa o Isaltino!
E mais até… até muito melhor
E na prova final do que vai dito
Vermos em Gondomar como o Major
Assopra seu poder por um apito!
E na Madeira aquele gorduchinho
Para quem o poder é brincadeira
Lá continua à frente do bailinho
Bebendo do seu vinho na torneira…
Ó Guterres fatal, por que fugiste?
E tu, Durão, também a dar à sola?
Sabemos que na fuga prevenistes
Deixar ao nosso povo a dura esmola
Dum futuro ruína, no engano
Das promessas fatais e deslavadas
Que fizestes ao Povo Lusitano
Em palavras sem nome se faladas!
Pois em nome do povo aqui anoto
A pressa que tivestes na partida
E do mau uso feito do seu voto
Numa traição final tão conseguida…
Que fuga do Poder tão sem glória!
O Povo Sentinela assim a vê-los
No registo final que dá a História
A todos os Miguéis de Vasconcelos…
E neste não avanço mal parado
Cá vamos ao museu das pátrias mortas
Que foi solenemente inaugurado
Pelo Santana, a Manuela e Portas
Na presença impante de Bagão
Que de tudo ministro, num momento
Levou este país, esta Nação
Á penúria fatal do Orçamento!
Os frutos aí estão: no desemprego
A juventude vai desamparada
E o reformado em desassossego
Vê a magra reforma amputada…
Vê a saúde a fugir-lhe esquiva…
Vê o Ensino e a Justiça inerte...
Sem esperança sequer de que reviva
Novo Sonho de Abril que o desperte!
Aquilo que promessa era descer
Não pára nem descansa na subida!
E a cada dia um nos vem dizer
Quão mais triste será a nossa vida…
E já nova promessa e nova gente
Aproveitando o mote entra na dança
E nos promete a todos de presente
No desemprego…um retomar de esperança!
E certo que o dizem por dizer…
Não custa mesmo nada prometer!
Cansado de votar na incerteza
A urna transformada em saco roto
Vai o povo da pátria portuguesa
Descrer da validade do seu voto!
E cansado de burlas e promessas
Na desgraça final que já futura
Bem pode decidir pelas avessas
E votar sem querer a ditadura…
Não obriguem o Santo a decidir
Nem lhe perguntem como votaria
Se neste mau caminho prosseguir
Isto que dizem ser Democracia
Mas deixa o operário sem tear
O ferreiro sem forja, até sem malho:
Um governo se quer a governar
E a proteger de roubos o Trabalho!
Que cesse deste circo a palhaçada
E seja o futebol só um desporto
E não a droga, a droga envenenada
Servida ora a povo mais que morto…
Nada de Otas! Nada de TGVês!
Nem rotundas sequer ou auto-estrada…
Morre de susto o povo português
Na tristeza das obras de fachada!
Que se faça cultura verdadeira:
Não se veja ministro nem doutor
Ao falar português dizer asneira
De cara tão alegre e sem pavor…
Asneira que nos sai depois escrita
Com letrinhas inteiras no jornal
A conspurcar a língua tão bonita
Que outrora se falava em Portugal!
E não deitem as culpas por favor
Ao vosso desgraçado Professor…
Vai partir o Sampaio sem deixar
Arrumada esta casa: Portugal!
O Alegre se vai candidatar…
Mas o Mário recusa o funeral
E arranca na frente de Cavaco
Contente de fazer mais um tabu…
Todos esperam enfiar no saco
Portugas como eu e como tu!
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Guterres, o fradinho, fez-se Unesco…
E não ouvimos já falar Santana…
Durão para Bruxelas foi ao fresco…
Manuela se fez Dona Fulana…
O Portas lá se foi nas enxurradas…
Mas os outros que agora lá estão
De tais peças copiam as pisadas
E não mudam as Leis de D. Bagão!
E neste nome triste aqui me fico
E mais nomes não faço recordados
Dos que fizeram orçamento rico
Sempre à custa dos pobres Reformados…
Do remorso não sentem mordidelas
E do mando se vão bem aviados
Estes novos amantes de Bruxelas
Que em desgraça nos fazem desgraçados!
Tu deixa o tabaquinho! Vai à passa
Que farta no mercado se apresenta
E de tantas famílias na desgraça
Na fortuna de poucos se contenta…
Do vicio do tabaco vais curado
E nunca morrerás mais de catarro
Que já não pode um pobre desgraçado
Fumar tantos impostos num cigarro!
E o velhinho privado da chupeta
Perdido na velhice sem remanso
Vai dar-lhe certamente na veneta
O requerer final de seu descanso
Ao ilustre ministro das finanças
Que ao privá-lo assim da nicotina
Está a deferir com falas mansas
Do ancião a morte repentina!
Não mais eu te verei tão triunfante
Nas longas baforadas dum paivante…
Mas vou dizer aqui que não lamento
O suicídio destes desgraçados
Que eram salvação dos orçamentos
Á sua custa sempre equilibrados!
Agora com reforma nos setenta
Acaba da reforma o despautério:
O velho no trabalho se arrebenta
Ou vai no Desemprego ao cemitério…
São estas soluções, estas conquistas
O brilho intenso dos economistas!
E feitas eleições por alto preço
O nosso voto pago a bom valor
Cá regressamos todos ao começo
De um futuro de há muito assustador!
Até que o Povo cansado de doutores
E dos mesmos mentores celebrados
Eleja a governar os lavradores
Que nos mostrem os campos bem lavrados…
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Não pode ser assim, não pode não
Este sonho de Abril ser destroçado
No nosso Portugal, pobre Nação
Onde o pão que se come é tributado
Para pagar a obra descarada
Dos que fazem progresso de cimento
E abrem com orgulho a auto-estrada
Onde circula um Povo em sofrimento!
Mas não vamos aqui ser o Bandarra…
Desejamos que chova porque a chuva
Vale mais que discursos que dão parra
Quanto mais na promessa mostram uva!
Mas a cada tear que vai parado…
Cada forja que vemos apagada…
Cada barco que vemos’i varado…
Cada escola desfeita, abandonada…
Vemos marca terrível do progresso
Na mais treda mentira alicerçado!
O futuro tornado retrocesso
E a lembrar tristezas do Passado…
Só nos falta fazer no Parlamento
No dia que lhes seja mais azado
Demonstração do nosso sofrimento
No sempre repetido e velho fado!
E convém anotar: nem sempre é boa
A Lei Geral que sopra de Lisboa…
E veremos então meu Portugal
A eleger de novo um novo Rei
E a trabalhar no duro e na real
Per Deos, pola Lei e pola Grei
Sem futebol, sem fado, sem partidos
Liberto dessa treta dos doutores
E sem mais à Europa submetidos
No galarim maior dos vencedores!
O Santo assim o quer, o Santo Mor
Da malta Nicolina o protector!
Agora que à cidade sou chegado
E a tem o Santo bem no coração
Dou nela bem havido e bem provado
O progresso do resto da nação:
Não falta aí cimento levantado…
Caixote, caixotinho e caixotão…
O lixo recolhido com cuidado…
Bem separado o vidro do cartão…
Palácio Vila Flor recuperado
Bem pode ser o Centro da Cultura
Se for aberto ao Povo e ao Povo dado
Como espaço de Ser e de Procura!
Parabenizo aqui Dona Francisca
Que a Cultura faz Municipal…
E veremos agora se ela arrisca
Mudar o panorama cultural!
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Do Cosme a obra feita lá na Penha
Só peca no cimento assim à vista
Mas esperamos nós que a hera venha
No retoque da nódoa paisagista…
De resto o que promete o Cosme faz
E vai banir decerto aquela feira
Fazendo regressar a velha paz
Que tinha a nossa Penha verdadeira!
Parece a nosso Santo que ora cabe
Falar-se num apelo comovido
Dum rio português. o Rio Ave
Que nas Taipas se vê tão poluído
A pontos de, se alguém aí nadar
Correr o sério risco de morrer!
Mas vemos a Vimágua lá pescar
A água que cidade anda a beber…
Claro que refeita e que tratada
Aparenta água limpa e com saúde
Mas não passa de droga bem drogada
Segundo investigar eu soube e pude…
E não faço questão de aqui dizer
O que há muito repete o Zé Povinho:
A água p’ra lavar! Que p’ra beber…
Já Baco preferia beber vinho!
Que a Vimágua nos traga lá do Douro
Um tinto de respeito ao bebedouro…
Que se passa com Muma na verdade
Tão as costas a dar ao Tribunal?
Quem se atreveu a vir cá à cidade
Roubar o seu antigo pedestal?
E quem a pôs assim numa peanha
Mais própria de uma reles figurinha?
Truncando o monumento que se ganha
Se não a dimensão de cascatinha?
O Dom Afonso, o nosso, o do Castelo
Sabendo do Afonso Cutileiro
Pediu municipal o camartelo
Na implosão de aborto tão foleiro!
Registo aqui do Rei o seu desgosto
E imploro a Magalhães, só como sei
Que em nome da Arte e do Bom Gosto
Salve a Cidade do Pedrulho-Rei…
O outro Magalhães, o do Vitória
Que lá por fora ao menos se aguenta
Terá de sempre sua essa glória
De arrumar de vez o D. Pimenta
Cuja fama se fez naquele alerta
Que o mundo correu em volta inteira:
“A mentira de ontem mais incerta
É amanhã verdade verdadeira”!
E não digam que o homem não sabia…
Ou que era ele sozinho que mentia!
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Olhai, ó juventude, ó Nicolinos
A quem a Festa pelo Santo é dada:
Fazei-vos no estudo bem ladinos
E usai sempre a capa bem traçada…
A capa e a batina que era dantes
Sem tricórnio ou meia descarada
Pois sempre em Guimarães os estudantes
Fizeram a Ciência bem trajada!
E agora que a nossa Academia
A três Escolas vai já alargada
Usar o velho traje bem seria
Prova definitiva e acertada
Deste nosso querer tão Nicolino
Ao traje nosso, o traje sem idade
Tão diferente do novo e cabotino
Que de Braga chegou cá à Cidade…
Já nos constou ser obra do Demónio
Esta invenção solerte do tricórnio!
A Escola de Sarmento reforçada
Na de Santos Simões e na de Holanda
Fará saber de forma bem marcada
O que o Santo em Pregão aqui nos manda!
Por falar nisso…o nosso Monumento
Só vai ganhar no tempo mais sentido
E Magalhães decerto a cem por cento
Fará cumprir o que foi prometido…
E vós de Guimarães as damas minhas
Luzindo como sol em frio Inverno
Colhei de minha lança as maçãzinhas
Que são de nosso Amor o gesto terno…
Entrai na dança e vinde à nossa Festa
Que é vosso este querer, este carinho
E a consolação que só nos resta
É trazer-vos a ela em bom caminho…
Um sorriso que venha feito prenda
Aceso num Amor que bem se entenda!
Aí ó malta!A hora vai chegada
De mostrarmos a Bush de uma vez
O que é a maçaneta bem alçada
Na mão do Estudante Português:
Fazei aí estrondo tão ousado
Que no Afeganistão e no Iraque
Suspensos os apoios do Senado
A guerra finalmente dê o traque!
Ao mostrarmos ao Santo a devoção
Que temos pela Vida e pela Paz
Ao tredo capital diremos não
E ao mundo global que ele nos traz
Oporemos a força da Razão
No barulho final que aqui se faz…
E não nos venha Bush, esse pinoca
Servir o seu arroz, arroz chinoca!
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Que no Olimpo os deuses reunidos
No pasmo desta nossa Tradição
Já tiraram a cera dos ouvidos
Para melhor ouvir nosso Pregão!
E já Minerva corre alvoroçada
A fazer tranquilo o próprio Zeus
Garantindo que a nossa zabumbada
É alegria mor dos filhos seus…
Que seja construída em Portugal
Que tantas pátrias novas deu ao mundo
Do Amor e da Paz a capital
Dum Humanismo são e mais profundo!
Por isso aqui vos manda o nosso Santo
Que bem erguida seja essa baqueta
E barulho se faça tanto e tanto
Que do Poder abafe a velha treta!
Zupai-me nessas peles com vigor…
Firmai-me essas caixas bem no lombo…
Que o mundo acorde já do estupor…
E o Demo no inferno dê um tombo!
É bem de Guimarães a Tradição
Que o Santo faz cumprir neste Pregão!
A. Meireles Graça, fecit in su Tebaida de Creixomil. ad Nicolorum arroubos.
Guimarães, Novembro, 2005