Foi há 32 anos
A REVOLUÇÃO PORTUGUESA DE 25 DE ABRIL DE 1974
“Há vinte anos, em vésperas do 25 de Abril, Portugal era um país onde a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a
Foi há 32 anos
A REVOLUÇÃO PORTUGUESA DE 25 DE ABRIL DE 1974
“Há vinte anos, em vésperas do 25 de Abril, Portugal era um país anacrónico (…) onde a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada (…)
A Revolução Portuguesa de 25 de Abril
"Há vinte anos, em vésperas do 25 de Abril, Portugal era um país anacrónico. Último império colonial do mundo ocidental, travava uma guerra em três frentes africanas solidamente apoiadas pelo Terceiro Mundo e fazia face a sucessivas condenações nas Nações Unidas e à incomodidade dos seus tradicionais aliados.
Para os jovens de hoje será talvez difícil imaginar o que era viver neste Portugal de há vinte anos, onde era rara a família que não tinha alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proíbidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada.
A anestesia a que o povo português esteve sujeito décadas a fio, mau grado os esforços denodados das elites oposicionistas, a par das injustiças sociais agravadas e do persistente atraso económico e cultural, num contexto que contribuía para a identificação entre o regime ditatorial e o próprio modelo de desenvolvimento capitalista, são em grande parte responsáveis pela euforia revolucionária que se viveu a seguir ao 25 de Abril, durante a qual Portugal tentou viver as décadas da história europeia de que se vira privado pelo regime ditatorial. "
António Reis - Portugal 20 Anos de Democracia
CRONOLOGIA
22 de Fevereiro
Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola, em que este defende que a solução para a guerra colonial deverá ser política e não militar.
5 de Março
Nova reunião da Comissão Coordenadora do MFA. É lido e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial: intitulava-se "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação" e foi elaborado por Melo Antunes
14 de Março
O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. Essa cerimónia de solidariedade será ironicamente baptizada nos meios ligados à oposição ao regime como "Brigada do Reumático" nome pelo qual ainda hoje é muitas vezes referenciada. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.
16 de Março
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.
24 de Março
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.
23 de Abril
Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.
24 de Abril
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença .
24 de Abril - 22:00 horas
Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao MFA já estão no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento. Será ele a comandar as operações militares contra o regime.
24 de Abril - 22:55 horas
A transmissão da canção " E depois do Adeus ", interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o ínicio das operações militares contra o regime.
25 de Abril - 00:20 horas
A transmissão da canção " Grândola Vila Morena " de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renancença, é a senha escolhida pelo MFA, como sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.
25 de Abril - Das 00:30 às 16:00 horas
Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais ( RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).
Primeiro Comunicado do MFA difundido pelo Rádio Clube Português
Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.
As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.
Desde a primeira hora o povo vem para a rua para expressar a sua alegria.
Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos. Dentro do Quartel estão refugiados Marcelo Caetano e mais dois ministros do seu Gabinete.
25 de Abril - 16:30 horas
Expirado o prazo inicial para a rendição anunciado por megafone pelo Capitão Salgueiro Maia, e após algumas diligências feitas por mediadores civis, Marcelo Caetano faz saber que está disposto a render-se e pede a comparência no Quartel do Carmo de um oficial do MFA de patente não inferior a coronel.
25 de Abril - 17:45 horas
Spínola, mandatado pelo MFA entra no Quartel do Carmo para negociar a rendição do Governo.
O Quartel do Carmo hasteia a bandeira branca.
25 de Abril - 19:30 horas
Rendição de Marcelo Caetano. A chaimite BULA entra no Quartel para retirar o ex-presidente do Conselho e os ministros que o acompanhavam, levando-os, à guarda do MFA para o Posto de Comando do Movimento no Quartel da Pontinha.
25 de Abril - 20:00 horas
Disparos de elementos da PIDE/DGS sobre manifestantes que começavam a afluir à sede daquela polícia na Rua António Maria Cardoso, fazem quatro mortos e 45 feridos.
26 de Abril
A PIDE/DGS rende-se após conversa telefónica entre o General Spínola e Silva Pais director daquela corporação.
Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, perante as câmaras da RTP.
Por ordem do MFA, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afectos ao antigo regime, são enviados para a Madeira.
O General Spínola é designado Presidente da República.
Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.
27 de Abril
Apresentação do Programa do Movimento das Forças Armadas.
29 a 30 de Abril
Regresso dos líderes do Partido Socialista (Mário Soares) e do Partido Comunista Português (Álvaro Cunhal).
1 de Maio
Manifestação do 1º de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas. Outras grandes manifestações decorreram nas principais cidades do país.
4 de Maio
O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios.
16 de Maio
Tomada de posse do Iº Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos.
Do I Governo fazem parte, entre outros, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro.
20 de Maio
Américo Tomás e Marcelo Caetano, com o conhecimento da JSN mas não do Governo, partem para o exílio no Brasil.
25 de Maio
Início das conversações com o PAIGC.
26 de Maio
É fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional em 3300$00.
Maio / Junho
Grandes conflitos laborais e lutas de trabalhadores começam a surgir em algumas das grandes empresas portuguesas LISNAVE, TIMEX, CTT.
Inicia-se um grande movimento popular de ocupações de casas desabitadas que vai prolongar-se por vários meses. A Junta de Salvação Nacional legaliza, em 19 de Maio, as ocupações verificadas e proíbe novas ocupações.
6 de Junho
Conversações preliminares com a FRELIMO, em Lusaka, com vista à independência de Moçambique.
8 de Julho
É criado o COPCON, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho
9 de Julho
O Primeiro Ministro Palma Carlos pede a demissão do cargo por alegadamente não ter condicões políticas para governar numa clara alusão ao peso da influência do MFA. Com ele solidarizam-se alguns ministros do seu Gabinete entre eles Francisco Sá Carneiro
12 de Julho
Vasco Gonçalves é indigitado por Spínola para o cargo de Primeiro Ministro.
18 de Julho
Tomada de posse do IIº Governo Provisório, presidido por um homem do MFA, o General Vasco Gonçalves.
27 de Julho
Spínola reconhece o direito à independência das colónias africanas.
Julho / Agosto
Greves da MABOR, TAP, SOGANTAL e JORNAL DO COMÉRCIO.
8 de Agosto
Motim de ex-agentes da PIDE/DGS presos na Penitenciária de Lisboa.
28 de Agosto
Promulgação da Lei da Greve.
31 de Agosto
Por despacho conjunto do Ministério da Admnistração Interna e do Ministério do Equipamento Social é criado o SAAL vocacionado para intervir na área da habitação social. No processo SAAL colaboraram então alguns dos arquitectos portugueses hoje internacionalmente reconhecidos, como Siza Vieira e Alves Costa. Ficaram célebres as áreas de intervenção do Barredo no Porto, as de Setúbal e de Évora.
6 de Setembro
Acordos de Lusaka entre a FRELIMO e o Governo Português.
7 de Setembro
Tentativa de tomada de poder pelas forças neo-colonialistas em Lourenço Marques.
9 de Setembro
O Governo Português reconhece a Guiné-Bissau como país independente.
10 de Setembro
Apelo de Spínola à chamada Maioria Silenciosa, numa tentativa de procurar o apoio dos sectores mais conservadores da sociedade portuguesa. Em resposta a este apelo surgem na imprensa, dias mais tarde, notícias que anunciam para dia 28 uma manifestação de apoio a Spínola.
26 de Setembro
António de Spínola e Vasco Gonçalves assistem a uma corrida de toiros no Campo Pequeno. Vasco Gonçalves é apupado por manifestantes conotados com a Maioria Silenciosa.
28 de Setembro
Em resposta à anunciada manifestação da Maioria Silenciosa são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.
30 de Setembro
Apresentação da demissão do Presidente da República General António de Spínola e nomeação do General Costa Gomes.
Tomada de Posse do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
6 de Outubro
"Um dia de trabalho para a Nação" proposto pelo Primeiro Ministro. Um domingo é transformado em dia útil de trabalho oferecido gratuitamente pelos trabalhadores ao país. A adesão é significativa e o resultado financeiro desta campanha será dias mais tarde estimado pelas entidades oficiais competentes em cerca de 13000 contos.
27 de Outubro
O Governo anuncia as Campanhas de Dinamização Cultural, empreendidas pela 5ª Divisão do EMGFA com o objectivo de "cumprir integralmente o programa do MFA e colocar as Forças Armadas ao serviço de um projecto de desenvolvimento do Povo Português".
11 de Novembro
O Ministério da Educação e Cultura institui o Serviço Cívico Estudantil, ano vestibular antes da entrada definitiva no ensino superior e que mobilizou milhares estudantes para brigadas de alfabetização e de educação sanitária junto das populações.
7 de Dezembro
Por decisão do Governo é decidido o pagamento do 13º mês aos pensionistas do Estado.
9 de Dezembro
Tem início o renceamento eleitoral com vista à realização das primeiras eleições em liberdade.
13 de Dezembro
Os Estados Unidos concedem ao governo português um importante empréstimo financeiro no âmbito de um Plano de Ajuda Económica a Portugal.
FACTOS E PERSONAGENS
Movimento dos capitães
Movimento surgido em Agosto de 1973 no seio das Forças Armadas e protagonizado pelos oficiais intermédios e subalternos que visava inicialmente a mera satisfação de reivindicações de carácter corporativo. Em breve se transformou num movimento de clara contestação política que culminou com o derrube do regime em 25 de Abril de 1974.
Maioria Silenciosa
Designação pela qual ficou conhecida a tentativa de influência mais activa na vida política de alguns sectores conservadores da sociedade portuguesa civil e militar, e que, em Setembro de 1974, a partir da organização de uma manifestação de apoio ao então Presidente da República General Spínola, visava o reforço de posição política deste militar.
Salgueiro Maia (n.1944 m.1992 )
Militar de méritos reconhecidos, dotado de uma inteligência superior e de uma coragem e lealdade invulgares, dele se diz "ter sido o melhor de entre os melhores dos corajosos e generosos Militares de Abril". Nasceu em Castelo de Vide. Fez os estudos secundários no Colégio Nun'Álvares, em Tomar, e no Liceu Nacional de Leiria. Entrou para a Academia em 1964 e em 1966 ingressou na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Combateu na Guiné e em Moçambique, já com a patente de capitão. Foi um dos elementos activos do MFA. No dia 25 de Abril de1974, comandou a coluna militar que saiu da EPC de Santarém e marchou sobre Lisboa, ocupando o Terreiro do Paço. Horas mais tarde comandou o cerco ao Quartel do Carmo que terminou com a rendição de Marcelo Caetano. Foi membro activo da Assembleia do MFA, durante os governos provisórios, mas não aceitou qualquer cargo político no pós 25 de Abril. Faleceu em Santarém, a 3 de Abril de 1992, vítima de cancro.
Melo Antunes (n.1933 m.1999)
Capitão em 1961, passou a major em 1972. Co-autor e principal redactor do programa do MFA, pertenceu à sua comissão coordenadora depois de 25 de Abril de 1974. Foi várias vezes ministro nos governos provisórios. Negociou a independência da Guiné-Bissau e fez parte do Conselho dos Vinte, órgão do MFA antes do período constitucional, do Conselho da Revolução, e do Conselho de Estado. Notabilizou-se ainda por ter participado activamente na elaboração do Programa de Acção Política e Económica (Dez. de 1974) e do Documento dos Nove , conhecido como documento Melo Antunes.
Francisco da Costa Gomes (n. 1914 m.2001)
Francisco da Costa Gomes nasceu em Chaves. Iniciou a sua carreira militar em 1931 e, em 1944, licenciou-se em Ciências Matemáticas. Em 1958, foi nomeado subsecretário de Estado do Exército, cargo de que foi exonerado devido às suas divergências com a política colonial. Como brigadeiro e general, exerceu os cargos de 2º Comandante e Comandante da Região Militar de Moçambique, entre 1965 e 1969. Entre 1970 e 1972, foi comandante chefe das Forças Armadas de Angola e, em Outubro desse ano, seria nomeado Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, cargo de que foi exonerado a 14 de Março de 74. Retomou estas funções após o 25 de Abril de 1974, enquanto membro da JSN e, em Setembro de 1974, ascendeu ao cargo de Presidente da República, onde permaneceu até 13 de Julho de 1976. Atingiu o marechalato em 1981. Esteve ligado ao Conselho Mundial da Paz e foi membro activo da organização Generais pela Paz.
Legião Portuguesa
Fundada por proposta de J.Botelho Moniz, por Decreto-Lei de 30-9-1936, que estabelece na base I "O Governo reconhece a Legião Portuguesa, formação patriótica de voluntários destinada a organizar a resistência moral da Nação e cooperar na sua defesa contra os inimigos da Pátria e da ordem social."
"Nós estamos sempre e em toda a parte. Estamos sempre na vigilância, na contradita, na acção Estamos em toda a parte: nos cafés, nos teatros, nos serviços públicos ou particulares, nos combóios, nas serras, nos campos, nas cidades nas praças e nas ruas..."
Salazar.Discursos III, 20/21. Alocução aos legionários
Marcelo Caetano (n.1906 m.1980)
Político de formação ultraconservadora, influenciada pela geração integralista que o precedeu, foi catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa e, designadamente a partir de 1940, enveredou pela carreira política, exercendo os mais altos cargos sob o regime ditatorial salazarista: comissário nacional da Mocidade Portuguesa, ministro das Colónias e presidente da Câmara Corporativa. Em 1968 devido a doença súbita de Salazar, ocupou o cargo de ministro da Presidência do Conselho até à revolução de 25 de Abril de 1974. Deixou vasta obra publicada, não só no âmbito do direito administrativo e corporativo, como no da investigação histórica. Morreu exilado no Brasil em 1980.
Américo Tomás (n.1894 m.1987)
Almirante e Presidente da República Portuguesa (1958-1974), deposto pela revolução de 25 de Abril de 1974. Era ministro da Marinha quando Salazar o propôs para disputar as eleições contra o General Humberto Delgado, candidato da oposição política democrática, vencido com recurso à fraude. Depois do 25 de Abril de 1974 esteve exilado no Brasil, tendo regressado em 1979. Publicou as suas memórias com o título de As duas últimas décadas de Portugal.
Humberto Delgado (n.1906 m.1965)
Humberto Delgado teve uma carreira militar brilhante. Foi aliciado para a conspiração contra a República a partir do núcleo de implicados no 18 de Abril, que estava preso em Elvas. As simpatias de Delgado foram para o grupo mais forte e mais conservador dos conspiradores. Em Maio de 1926, enquanto aluno-piloto em Sintra, conseguiu que a Escola Prática de Infantaria de Mafra aderisse ao 28 de Maio. Durante a ditadura Militar, Humberto Delgado foi um dos típicos jovens tenentes, que apoia o mais forte núcleo dos militares, disposto a todos os sacrifícios para não regressar à República. A grande viragem na vida de Delgado dá-se em fins de 1941, quando Santos Costa o chama para lhe entregar uma missão secreta em Inglaterra: recolher vários dados que permitam a construção de uma base aérea nos Açores. Descobre então que uma democracia pode ser eficiente. A partir de 1944 confirma esta ideia com os EUA, pois é nomeado director do Secretariado de Aeronáutica Civil, o que o leva frequentes vezes aos Estados Unidos. .Em 1952, Delgado é aprovado com a classificação máxima de Alto-Comando para General. É então nomeado adido militar e do Ar em Washington e representante de Portugal da NATO. Passa a viver nos Estados Unidos durante cinco anos. Regressa a Lisboa em 1957, sendo já considerado politicamente perigoso, uma vez que as suas experiências na NATO e o facto de ter vivido nos EUA mudou o seu modo de pensar. Aproxima-se pouco a pouco dos liberais e é convidado para se candidatar à Presidência. Aos olhos da população, Delgado surgiu como o homem que tinha o apoio dos EUA e de uma parte das Forças Armadas, ou seja, que tinha as condições necessárias para derrubar Salazar. A princípio teve grandes apoios, mas depois todos lhe foram negados. No entanto não tardou a ter o apoio oficial de todos os grupos da oposição. Surgiram grandes revoltas no Porto e em Lisboa. Mas apesar do largo apoio da população, Delgado não conseguiu ganhar as eleições, dado que os resultados eleitorais foram manipulados em favor do regime. Passadas as eleições, tornou-se um homem isolado e incómodo para praticamente todas as forças políticas que o apoiaram e também para os americanos. O seu desprezo pela mentalidade e métodos portugueses impediu que criasse uma organização própria estável, enquanto a falta de um forte grupo liberal o obrigou a colaborar minimamente com o PCP. O regime procurou inicialmente neutralizar o "general sem medo" de forma discreta. Humberto Delgado exilou-se no Brasil , tornando-se um homem amargurado e desiludido, não só com o regime, mas também com os militares, a oposição e a mentalidade portuguesa. Após ter viajado por Argélia, Itália e França, foi assassinado às mãos do regime, perto de Badajoz.
Mário Soares (n.1924)
Estadista nascido em Lisboa. Enquanto jovem participou em acções de resistência contra o regime de Salazar e Caetano, tendo conhecido as prisões e o exílio. Participou activamente no Movimento de Unidade Democrática (MUD), na campanha do general Humberto Delgado e nas eleições parlamentares de 1969. Em 1973 foi um dos fundadores do PS e veio a ser seu líder incontestado depois do 25 de Abril. Nessa qualidade chefiará os primeiro e segundo governos constitucionais, após ter sido Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1975. Quebrando um hiato de cinco anos em que se assumiu como a principal figura da oposição, regressou em 1983 ao poder, dirigindo um governo de coligação PS-PSD, que não resistiriu às mudanças internas verificadas no segundo destes parceiros. É eleito Presidente da República na segunda volta das eleições presidenciais de 1986. Será reeleito presidente em 1991 para um mandato que terminou em 1996. Foi presidente da Comissão Mundial dos Oceanos, encarregada de redigir e apresentar até 1999 um relatório sobre os Oceanos. Regressou à vida política activa para se candidatar, pela terceira vez, à Presidência da República, nas eleições de Janeiro de 2006.
Álvaro Cunhal (n. 1913 m. 2005)
Destacado dirigente comunista, formou-se em direito pela Universidade de Lisboa em 1935 e no mesmo ano foi eleito secretário geral da Juventude Comunista. Em 1949-51 promoveu a reorganização do PCP e em 1961 foi eleito seu secretário geral cargo em que se manteve até 1992, quando foi substituído por Carlos Carvalhas. Grande parte da sua vida decorreu nas prisões, na clandestinidade e no exílio. Depois de 25 de Abril de 1974 regressou a Portugal e foi ministro sem pasta nos primeiros governos provisórios. Líder incontestado e carismático, exerceu forte influência na política e nos movimentos sociais que demarcam o seu percurso. Foi membro do Conselho de Estado desde 1982. Faleceu no dia 13 de Junho de 2005.
Adelino Palma Carlos (n. 1905 m. 1992)
Adelino da Palma Carlos: Primeiro-Ministro do I Governo Provisório (de 17 de Maio a 18 de a Julho de 1974). Foi a este prestigiado advogado de ideias liberais que Spínola recorreu para chefiar o primeiro governo saído da revolução de 1974. Com ligações a importantes grupos económicos e insuspeito de simpatias esquerdistas, tinha o perfil necessário para garantir a respeitabilidade do novo governo nos meios conservadores e internacionais. Mas, numa conjuntura política em que a balança da relação de forças se inclinava decididamente para a esquerda, aliás fortemente representada no seio do governo, a sua tarefa não seria fácil. Tanto mais que Spínola, seu principal apoio institucional, experimentava dificuldades crescentes junto do MFA. Em vão procurou o Presidente da República criar uma forte corrente nacional e militar que reforçasse a sua posição política, através de deslocações pelo País e apelos ao "bom povo português". O próprio Conselho de Estado viria a recusar as suas propostas de concentração do poder nas instâncias presidencial e governamental através de um referendo constitucional. Em consequência disto, Palma Carlos pedirá a sua demissão.
Francisco Sá Carneiro (n.1934 m.1980)
Advogado na comarca do Porto, foi deputado independente na Ala Liberal durante o regime de Marcelo Caetano (1969-1973).Depois do 25 de Abril de 1974, fundou o Partido Popular Democrático (PPD), tornando-se seu presidente. Participou no I Governo Provisório em Maio e Junho de 1974 como ministro sem pasta. Enquanto dirigente do Partido Social Democrata (nova designação do PPD), aliou-se ao Centro Democrático Social (CDS) e ao Partido Popular Monárquico (PPM) criando a Aliança Democrática (AD) em 1979, a qual, ao vencer as eleições, o tornou primeiro-ministro. Nas eleições gerais de 1980 obteve a maioria absoluta. Faleceu num acidente de aviação nas vésperas das eleições presidenciais em 4.12.80.
Otelo Saraiva de Carvalho (n. 1937)
Foi capitão em Angola de 1961 a 1963 e também na Guiné entre 1970 e 1973, sendo um dos principais dinamizadores do movimento de contestação ao Dec. Lei nº 353/73, que deu origem ao Movimento dos Capitães e ao MFA. Era o responsável pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do MFA e foi ele quem dirigiu as operações do 25 de Abril, a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da Pontinha. Graduado em brigadeiro, foi nomeado Comandante do COPCON e Comandante da região militar de Lisboa a 13 de Julho de 1975. Fez parte do Conselho da Revolução quando este foi criado em 14 de Março de 1975. Em Maio do mesmo ano integra, com Costa Gomes e Vasco Gonçalves, o Directório, estrutura política de cúpula durante o IV e V Governos Provisórios. Conotado com a ala mais radical do MFA, viria a ser preso em consequência dos acontecimentos do 25 de Novembro. Solto três meses mais tarde, foi candidato às eleições presidenciais de 1976. Volta a concorrer às eleições presidenciais de 1980. Em 1985 foi preso na sequência do caso FP-25. Foi libertado cinco anos mais tarde, após ter apresentado recurso da sentença condenatória, ficando a aguardar julgamento em liberdade provisória. Em 1996 a Assembleia da República aprovou uma amnistia para os presos do Caso FP-25.
Vasco Gonçalves (n. 1922 m. 2005)
Militar. Surgiu no Movimento dos Capitães em Dezembro de 1973, numa reunião alargada da sua comissão coordenadora efectuada na Costa da Caparica. Coronel de engenharia viria a integrar a Comissão de Redacção do Programa do Movimento das Forças Armadas. Passou a ser o elemento de ligação com Costa Gomes. Elemento da Comissão Coordenadora do MFA, foi, mais tarde, primeiro ministro de sucessivos governos provisórios (II a V). Tido geralmente como pertencente ao grupo dos militares próximos do PCP, perdeu toda a sua influência na sequência dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975.
Dados: Centro de Documentação 25 de Abril – Universidade de Coimbra
A poesia e o 25 de Abril
http://www.portugal-linha.pt/literatura/25Abril/
Associação 25 de Abril
http://www.portugal-linha.pt/literatura/25Abril/
Revolução dos Cravos na Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_Abril_de_1974
O 25 de Abril para os mais novos
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=livrosbd
O 25 de Abril e os Artistas Plásticos
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=artplas
Os Cartoons do 25 de Abril
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=cartoons