Ciclo de espetáculos em torno do ‘Poder’ prossegue a 6 de março
Erros, vida privada e responsabilidade pública, política e moral, em confronto no palco do CCVF com A Tragédia de Júlio César, de Shakespeare
Esta sexta-feira (6 de março), às 21h30, a trilogia que forma a primeira parte do ciclo de espetáculos em torno do ‘Poder’, programado pelo Centro Cultural Vila Flor, tem um novo episódio com a apresentação de A Tragédia de Júlio César. A mais recente encenação de Luís Araújo e da Ao Cabo Teatro torna o palco do CCVF no lugar onde nos (re)vemos e pensamos enquanto sociedade, contando com um elenco de distintos intérpretes: Ana Brandão, Ana Margarida Mendes, Ana Pinheiro, Carolina Rocha, Diana Sá, Gonçalo Fonseca, Jorge Mota, Maria Inês Peixoto, Miguel Damião, Nuno Preto, Pedro Almendra e Rafaela Sá.
Peça-problema, densa e controversa, ambientada no tempo-charneira da sangrenta metamorfose da República Romana no Império Romano, A Tragédia de Júlio César, mais do que a tragédia de um homem ou do poder, é a tragédia de Roma enquanto Cidade, palco e epítome expressivo da vida em comum dos homens. Alienada e podre, abate um tirano para apaziguar a culpa de si que não admite, e ergue uma outra, ainda mais feroz, tirania.
Trata-se de uma peça sobre pessoas que cometem erros, erros custosos, para si próprios e para o seu país. Ninguém nesta peça escapa a interpretações erradas, decisões erradas e erros de cálculo. Ser governado por César significa a total submissão a um autocrata implacável, capaz dos piores castigos. Porém, ser governado pelos homens que o matam significa a total sujeição às vontades de homens corruptos e autocentrados, cujo slogan “liberdade” se refere exclusivamente à própria liberdade de ação e à ausência de consequências para os seus atos.
A Tragédia de Júlio César é também a tragédia de um “tempo estranho”, cego, volátil, tenso, de ambíguos vínculos entre a vida privada e a responsabilidade pública e entre política e moral – estranheza essa que é metonímia possível e implacável do negrume que carateriza o nosso tempo. Com a releitura que a nova tradução de Fernando Villas-Boas propicia e po onde nos (re)vemos e pensamos enquanto sociedadetenciando as caraterísticas autorreflexivas da peça, A Tragédia de Júlio César quer “interrogar os mecanismos da História e do Presente”. O palco é assim o lugar privilegiado onde nos (re)vemos e pensamos enquanto sociedade, aproximando o teatro de um desígnio de reinvenção, de “laboratório social dos futuros possíveis”.
A primeira parte do ciclo em torno do ‘Poder’ – que terá continuidade no último quadrimestre do ano – fica completa com o espetáculo Eins Zwei Drei (27 de março), que marca o delirante regresso de Martin Zimmermann a Guimarães. Em Eins Zwei Drei (Um Dois Três), Zimmermann utiliza três personagens, arquétipos de palhaços, para abordar questões poderosas como a autoridade, a submissão e a liberdade. Três figuras arrancadas do mundo anárquico do circo sobrevivem, ou não, no ambiente estritamente controlado de um museu? Esta é a pergunta que se instala. O que se desenrola é altamente absurdo e trágico. Quanto mais controlado, mais cómico se torna o contexto. Com música tocada ao vivo por Colin Vallon, Eins Zwei Drei é interpretado magistralmente por Tarek Halaby, Dimitri Jourde e o português Romeu Runa.
Os bilhetes para os espetáculos encontram-se disponíveis pelo valor de 10 euros ou 7,50 euros com desconto, podendo ser adquiridos nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Casa da Memória de Guimarães e Loja Oficina, bem como online em www.ccvf.pt.