Ecovias do Ave e do Selho. Recuperar a ligação, recuperar a identidade

Cinquenta e um quilómetros de percurso pedonal e ciclável. Mais do que um número, é a prova do investimento que tem sido realizado, para que possamos fruir do nosso património natural.
Não o entendamos como um ponto de chegada nem tampouco como um ponto de partida. O trabalho que nos traz até aqui leva vários anos, entre aqueles que foram contribuindo para a despoluição das massas de água ou dos que se debruçaram sobre a área da investigação & desenvolvimento ou da sensibilização e educação ambiental. Esta última como pilar obrigatório para que saibamos conhecer e entender o que nos rodeia.
Os projetos da Ecovia do Ave e do Selho, como outros que se seguirão, contribuirão, de forma decisiva, para a coesão territorial, reforçando a ligação entre as freguesias do concelho. Mas, mais do que isso, serão um instrumento determinante para a melhoria da qualidade dos nossos rios, para o reforço da galeria ripícola, para a recuperação e valorização do património natural, cultural e histórico, bem como para o aumento do conhecimento sobre a biodiversidade da região.
Estes projetos são resultado de um processo colaborativo entre a Câmara Municipal de Guimarães, o Laboratório da Paisagem e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro onde o seu principal objetivo é a definição de um traçado que respeite os princípios da sustentabilidade ambiental, socioeconómica e de integração paisagística. Um projeto que procura mitigar o impacte das intervenções, assegurando que estas resultam numa clara valorização dos habitats e do ecossistema ripícola e privilegiando ações que evitem elevados custos de intervenção.
Percorrendo o concelho, não será difícil perceber que as Ecovias do Ave e do Selho emanam do desejo da população e das freguesias. Também por isso, este é um projeto que deve assentar numa estratégia participativa, que foi já visível através do seu envolvimento das juntas e uniões de freguesia no processo que originou a proposta de traçado. Este método participativo permitiu garantir o equilíbrio, sempre que possível, quanto à extensão do percurso em cada freguesia envolvida, como forma de ser encontrada a melhor solução para o desenho das Ecovias.
Assim, destes dois traçados, e de um outro que a seu tempo será incluído, como é o caso do rio Vizela, nascerá o verdadeiro parque linear de Guimarães que contribuirá para a recuperação da ligação entre o cidadão e o rio, com a certeza de que, ao mesmo tempo, deverá assegurar o reforço da proteção dos ecossistemas. Sabemos que são projetos morosos, mas nenhuma intervenção desta complexidade deverá ser realizada sem o acompanhamento que garanta o respeito pela natureza. Também por isso, a colaboração de todos é determinante no cumprimento dos objetivos a que nos propomos.
Realce-se, também, que este é um projeto que apresenta, como atrás referi, uma forte componente de educação ambiental. É aliás desse desígnio que nascerá a publicação “O Ave Para Todos” que espelhará todo o trabalho de educação não formal que tem sido realizado nos diversos estabelecimentos de ensino e que tornou possível vários momentos de formação, capacitação e partilha entre entidades locais, regionais e nacionais e elementos das brigadas verdes e das juntas de freguesia. Por isso, não olhemos para o projeto da Ecovia como o primeiro capítulo para a recuperação das margens e dos rios Ave e Selho, mas antes como mais uma etapa – e que etapa... – de um projeto sustentado, que se alicerça, como tem sido hábito, na educação para a sustentabilidade e na investigação, inovação & desenvolvimento, como fatores determinantes para despertar consciências e aumentar o conhecimento dos cidadãos.
Tal como referi anteriormente, estou certo de que o Parque Linear de Guimarães, como assim tem sido designado, será mais uma oportunidade de restituir a ligação perdida entre o Homem e o Rio. A ligação efetiva, ao criar percursos que reconectarão as diferentes freguesias, mas também a afetiva, que muitas vezes se foi perdendo em resultado da degradação da massa de água, mas também pela forma como fomos deixando o rio “esconder-se” e correr algo envergonhado. Hoje é o momento de o resgatar. De o continuar a resgatar.
Carlos Ribeiro
Diretor Executivo Laboratório da Paisagem