'MUITO MAIS É O QUE NOS UNE' NA AÇÃO CLIMÁTICA

Globalmente, os níveis de apoio à ação climática são subestimados por todos nós. No início deste ano, esta “lacuna de perceção” foi reportada num artigo publicado por um grupo de investigadores liderado por Peter Andre na prestigiada revista Nature Climate Change*.
Foram inquiridos mais de 130 mil indivíduos em 125 países diferentes e os resultados desde trabalho demonstram, claramente, que há uma vontade “escondida”, em cada um de nós, em fazer mais pela ação climática, por isso devemos levantar a voz para responder aos desafios que se colocam.
No contexto deste estudo, foi perguntado às pessoas se estariam dispostas a dar 1% do seu rendimento para combater as alterações climáticas. No total, 69% responderam “sim” mas quando perguntaram aos mesmos participantes que percentagem das outras pessoas no seu país achavam que responderia “sim” à mesma pergunta, o resultado foi de apenas 43%. Isto significa de forma inequívoca, que a percentagem foi subestimada, ou seja, a vontade real é maior do que aquela que é percecionada individualmente.
Socialmente, esta evidência torna-se desde logo importante uma vez que, não só os decisores políticos, mas também as empresas e os indivíduos demonstram estar mais dispostos a contribuir se souberem que a maioria dos seus semelhantes também se preocupam com os desafios climáticos e querem realmente ver mudanças. Por outro lado, subestimar de forma sistemática o apoio generalizado conduz a um silêncio, uma inércia coletiva, que nos irá certamente conduzir a um futuro ainda mais idiossincrático do que aquele que se prevê. Subestimamos muitas vezes o valor das ações individuais e a dimensão que as somas de pequenas ações podem ter, num contexto macro. Estas ações podem estar relacionadas com a mobilidade, com os resíduos ou com a proteção e conservação da natureza. Todas elas, à sua escala e mediante o nosso empenho, contribuem de algum modo para mudar o nosso comportamento individual e coletivo. Este é sem dúvida um desafio de cooperação local, nacional e internacional.
É igualmente importante percebermos os benefícios da ação climática. Por um lado, no contexto social, a cooperação coletiva torna qualquer sociedade mais forte e resiliente aos desafios que lhe são colocados. Mas há mais para além disso. A saúde pública , por exemplo, pode beneficiar largamente da redução das emissões de carbono associada à redução significativa do trânsito em zonas urbanas e paralelo aumento e manutenção do nosso património arbóreo, uma vez que reduz potencialmente o risco de exposição e absorção de partículas que podem afetar a saúde física humana. Aqui, não só a saúde física, mas também a mental podem beneficiar, designadamente através da redução de ruído, reduzindo os níveis de stress aos quais somos expostos. Se pensarmos de forma integrada e holística, podemos aqui também prever potencias benefícios a longo prazo, nos custos anuais com a saúde pública.
Em plena época do Antropoceno, temos hoje, em Guimarães e no mundo, um desafio considerável em mãos, de uma enorme exigência coletiva e individual. Ao mesmo tempo, considerando o espírito de pertença e de comunidade intrínsecos ao contexto local, temos a oportunidade única de ser também um exemplo, de Guimarães para o mundo do sucesso da implementação de ações a nível individual e coletivo, que contribuem para a ação climática local e internacionacional. Como diria Rui Veloso, também na ação climática “muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa” na capacidade de transformar o nosso futuro num modelo concreto de desenvolvimento sustentável.
*Andre, P., Boneva, T., Chopra, F. et al. Globally representative evidence on the actual and perceived support for climate action. Nat. Clim. Chang. 14, 253–259 (2024). https://doi.org/10.1038/s41558-024-01925-3
Francisco Carvalho
Coordenador Geral e de Inovação do Laboratório da Paisagem.