Transporte público em via dedicada

Transporte público em via dedicada
A descarbonização do setor da mobilidade e dos transportes configura-se como um dos pilares estratégicos fundamentais para a concretização da neutralidade carbónica. Neste domínio, destacam-se duas áreas prioritárias de intervenção: o reforço do transporte público coletivo e a promoção da mobilidade elétrica. O setor dos transportes representa aproximadamente 25% do total das emissões de gases com efeito de estufa a nível nacional, apresentando uma tendência crescente ao longo dos anos. Dentro deste setor o transporte rodoviário é responsável por cerca de 96% das emissões, sendo que o transporte individual contribui com aproximadamente 60% deste total. Perante este cenário, torna-se imperativo apostar na expansão e qualificação das redes de transporte público, na eletrificação da mobilidade e na promoção dos modos ativos, como alternativas sustentáveis e eficientes ao transporte individual motorizado, que se caracteriza por uma baixa eficiência energética e elevada ocupação da infraestrutura viária. Importa notar que caso se mantenha o atual paradigma de mobilidade, a resposta às necessidades de deslocação da população do concelho de Guimarães continuará a assentar num aumento expressivo da utilização do automóvel particular, agravando os níveis de congestionamento, as emissões e os impactos negativos sobre o espaço urbano.
A atuação sobre os sistemas de mobilidade exige um entendimento profundo das especificidades territoriais, tanto ao nível da distribuição da população e das atividades económicas, como da organização dos fluxos de mobilidade. As próprias infraestruturas existentes condicionam a capacidade, a eficiência e o desempenho das redes de transporte. Adicionalmente, os territórios tendem a alcançar pontos de equilíbrio dinâmico entre as necessidades de mobilidade da população e a oferta disponível, sendo esta relação determinante para a definição das estratégias de planeamento.
Para inverter a tendência de dependência do automóvel e atingir os objetivos de sustentabilidade ambiental assumidos pelo município, é crucial melhorar significativamente a atratividade e a eficiência do transporte público, promovendo uma verdadeira transferência modal. Essa transição requer sistemas de transporte mais eficientes, resilientes e adaptativos, capazes de responder à crescente complexidade das dinâmicas urbanas.
Considerando que o espaço público é um recurso limitado, a intervenção nas redes de mobilidade deve ter em conta a disponibilidade e os constrangimentos da infraestrutura existente. Este aspeto é particularmente crítico em contextos de elevado congestionamento, onde o desempenho de um modo de transporte pode interferir diretamente com os outros. Por exemplo, o congestionamento do tráfego automóvel afeta negativamente a fiabilidade e a velocidade comercial do transporte coletivo rodoviário que partilha a mesma via. Assim, a valorização do transporte público depende fortemente do seu acesso preferencial à infraestrutura, nomeadamente através de vias dedicadas.
A existência de corredores dedicados é uma condição essencial para garantir a performance do sistema, em articulação com outros fatores como a velocidade de operação, a frequência e a elevada capacidade de transporte, uma vez que quando o transporte coletivo partilha o mesmo canal viário com o tráfego automóvel, fica sujeito aos mesmos constrangimentos, perdendo competitividade em termos de tempos de percurso e fiabilidade. A competitividade do transporte público está, portanto, diretamente associada ao seu grau de segregação face ao tráfego misto. Este privilégio de acesso à infraestrutura pode assumir formas pontuais, como faixas BUS ou sistemas de prioridade semafórica, ou ser estrutural, através da criação de canais exclusivos de circulação. Naturalmente, os ganhos operacionais e a diferenciação do serviço são mais expressivos no segundo caso – vias dedicadas.
A distribuição modal mais equilibrada e sustentável só será possível se o transporte público constituir uma alternativa clara e vantajosa face ao transporte individual.
Reconhecendo a importância estratégica do transporte público para o desenvolvimento territorial e a coesão social, o Município de Guimarães pretende implementar eixos estruturantes de transporte coletivo em via dedicada, assegurando ligações eficientes entre a cidade e as vilas do concelho. Esta rede deverá articular-se com os serviços existentes e planeados, promovendo uma mobilidade integrada e multimodal, e afirmando-se como o primeiro sistema interno de transporte de alto rendimento no concelho, excluindo a infraestrutura ferroviária já existente. Neste enquadramento, impõe-se a definição da estratégia de longo prazo para o desenvolvimento de um sistema de transporte público em via dedicada, progressivamente implementada, capaz de responder de forma eficaz e estruturante às necessidades de mobilidade do concelho de Guimarães nas próximas décadas.
Arq. Anita Pinto
Chefe da Divisão de Mobilidade