Jazz de alcance intercontinental em Guimarães de 11 a 20 novembro
30ª edição do festival apresenta jazz sem fronteiras disciplinares, geográficas e geracionais, através de 12 concertos, 2 exposições, jam sessions e oficinas de jazz
Começa já esta quinta-feira o incontornável Guimarães Jazz que nos vai transportar pelo globo através de música com alcance intercontinental de origem indiana, helvética, norte-americana, alemã, porto-riquenha, chilena, francesa, malaia e portuguesa. Seja em duo, trio, quarteto, quinteto, sexteto, octeto ou formação alargada a big band, o Guimarães Jazz celebra três décadas com a intensidade e a diversidade que lhe são reconhecidas pela cidade que preenche e a partir da qual se irradia a cada mês novembro. Figuras internacionalmente afirmadas e outras mais emergentes juntam-se à celebração da 30ª edição do festival, deixando a sua marca neste trajeto repleto de uma multiplicidade de expressões artísticas e renovados paradigmas, apresentando no presente novos caminhos possíveis para um futuro que se faz em conjunto.
A primeira lufada desta viagem jazzística faz-se sentir esta quinta-feira (11 novembro, 19h30) pelas mãos do pianista norte-americano de ascendência indiana Vijay Iyer. O concerto inaugural do Guimarães Jazz é um exemplo paradigmático de como a expressão multicultural, baseada no cruzamento de diferentes heranças culturais e musicais, se tornou a tendência dominante na cultura contemporânea. No novo trio do extraordinário pianista Vijay Iyer, formado também pela baixista malaia Linda May Han Oh e pelo baterista norte-americano Tyshawn Sorey, dois excelentes músicos da cena jazzística nova-iorquina, os elementos culturais cruzam-se para dar origem a uma música polirrítmica e poli-harmónica que tenta sintetizar as forças da ordem e do caos envolvidas no tumultuoso processo de gestação de um novo mundo híbrido.
Simultaneamente formal e sensual, e pontuada esporadicamente por um certo conceptualismo composicional que lhe acrescenta camadas de profundidade, a música do saxofonista porto-riquenho Miguel Zenón (12 novembro, 19h30) será, no Guimarães Jazz 2021, enriquecida por três instrumentistas de técnica meticulosa e enorme sensibilidade melódica. Esta sexta-feira, o pianista venezuelano Luis Perdomo, o contrabaixista austríaco Hans Glawischnig e o baterista norte-americano Henry Cole, complementados pela liderança de Zenón, apresentam-nos um quarteto eclético de diferentes identidades musicais que se encontram para servir uma música concentrada no aperfeiçoamento de tradições musicais, harmonizadas em pressupostos universalizantes de livre navegação pelo som.
O primeiro sábado da 30ª edição do Guimarães Jazz abre com a formação idiossincrática do WHO Trio (13 novembro, 16h00), cuja identidade é inseparável do estilo dos seus intérpretes, três músicos com uma abordagem altamente física ao seu instrumento: os suíços Michael Wintsch (piano) e Bänz Oester (contrabaixo), dois nomes importantes da improvisação europeia, e o norte-americano Gerry Hemingway (bateria), membro dos BassDrumBone e colaborador, entre muitos outros, de figuras seminais do jazz como Anthony Braxton ou Cecil Taylor.
Este trio é seguido, no mesmo dia, às 19h30, pelo octeto SuperBigmouth de Chris Lightcap, que resulta da ponte entre dois projetos anteriores liderados pelo contrabaixista – o quinteto Bigmouth, que editou dois registos discográficos pela editora portuguesa Clean Feed, e a banda Superette, uma formação de sonoridade elétrica e cujo álbum de estreia contou com as participações de Nels Cline e John Medeski. Este é um projeto formado por alguns dos mais influentes e respeitados músicos do jazz contemporâneo e representa a combinação de duas vertentes do trabalho de Lightcap – a desconstrução de matriz rock praticada pela fação Superette e o groove e a expansividade melódica de sensibilidade pós-bop da secção de sopros e secção rítmica do grupo Bigmouth.
A semana inaugural do festival culmina no domingo (14 novembro) com dois projetos colaborativos já com história no festival: às 16h00 decorre o já tradicional concerto da Big Band da ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo), este ano dirigida pelo pianista e compositor norte-americano Ryan Cohan que cumprirá um dos desígnios pedagógicos do festival, e às 19h30 surge-nos o projeto Porta-Jazz/Guimarães Jazz, assumido este ano por um quinteto liderado pela performer Inês Malheiro, em colaboração com a artista Carolina Fangueiro. Na reedição desta parceria em que o festival tem promovido o encontro entre músicos de jazz e artistas plásticos, procura-se, através de uma performance/concerto, “a ligação do espaço sonoro com o espaço cénico”, de acordo com as palavras dos seus criadores. Antes do concerto do projeto Porta-Jazz, serão apresentados os discos resultantes das colaborações das edições anteriores: 2019 (composta por Miguel Moreira, Lucien Dubuis, Mário Costa, Rui Rodrigues e Valter Fernandes) e 2020 (formada por Hugo Raro, Miguel Amaral, Rui Teixeira, Alex Lázaro e JAS).
Esta viagem pela 30ª edição do Guimarães Jazz regressa ao palco maior do CCVF a 17 de novembro, às 19h30, com o reeditar da parceria recente do festival com a Orquestra de Guimarães, a qual já deu origem, em edições anteriores, a performances de excelente qualidade musical. Este ano, a formação vimaranense atuará em acompanhamento do Niels Klein Trio, um grupo de músicos alemães da nova geração europeia do jazz liderado por um saxofonista de grande sensibilidade musical e com uma experiência relevante de trabalho orquestral. O projeto em causa, centrado em música composta exclusivamente para trio de jazz e orquestra, pretende explorar as vias criativas proporcionadas pela intersecção de instrumentistas com formação clássica com improvisadores de jazz, cartografando assim os territórios fronteiriços nas margens dos géneros musicais.
Fruto de uma das recentes vertentes do Guimarães Jazz – o conhecimento da música contemporânea dedicada à exploração dos territórios mais tangenciais ao jazz – o coletivo Sonoscopia propõe este ano, a partir das 19h30 de quinta-feira (18 novembro), um duo inédito de instrumentos não-convencionais e piano preparado, formado por Henrique Fernandes e Joana Sá, dois músicos e artistas que, com discrição e integridade, têm desenvolvido ao longo dos últimos quinze anos percursos artísticos distintos, embora semelhantes em termos de originalidade, criatividade e pertinência, nas margens dos formatos consensualizados pela indústria musical.
O Black Art Jazz Collective sobe ao palco no dia seguinte (19 novembro, 19h30). Trata-se de um grupo constituído por instrumentistas de inegável competência técnica e que têm consolidado o seu percurso do jazz através da aprendizagem com alguns dos nomes maiores deste género como Wallace Roney, Joe Lovano, Kenny Barron ou Bobby Hutcherson. Esta banda destaca-se sobretudo pela sobreposição de narrativas musicais e políticas, homenageando através do poder evocativo do jazz não apenas a herança artística mas também o lastro de resistência política inscrito no património genético da música de raiz afro-americana. Nesse sentido, e tal como os próprios membros do grupo o afirmam, este projeto chama a si os princípios éticos e estéticos de ensembles seminais do passado, desde logo e com evidente acuidade os lendários Jazz Messengers de Art Blakey.
Aquele que é o derradeiro dia da celebração dos 30 anos do Guimarães Jazz, é também o mais preenchido, apresentando três concertos que atravessam a tarde e a noite de 20 de novembro. Às 16h00, vamos poder assistir ao duo do trombonista e compositor suíço Samuel Blaser em colaboração com o guitarrista francês Marc Ducret, reconhecido pela crítica jazzística como um dos músicos mais influentes do jazz europeu dos últimos trinta anos. Embora de gerações e com experiências criativas muito diferentes, Blaser e Ducret são ambos músicos de grande virtuosismo e cultura musical, que partilham uma atração pelo risco e pela disrupção das fórmulas impostas pela indústria musical, encaixando perfeitamente numa das principais intenções do Guimarães Jazz enquanto festival que se propõe radiografar as tendências principais da criação jazzística contemporânea.
Às 19h30, as sonoridades desviam-se com um quinteto liderado pelo pianista e compositor nativo de Chicago Ryan Cohan. Duas décadas passadas desde que iniciou a sua carreira na música, este é um digno representante de uma das tendências do jazz do século XXI, centrada fundamentalmente na exploração do jazz através do prisma das suas relações não apenas com a música clássica mas também com a música tradicional de geografias e culturas não-ocidentais. Entre várias facetas musicais que tem desenvolvido ao longo dos anos, Ryan Cohan tem colaborado com inúmeros ensembles de renome mundial e músicos de jazz prestigiados como a Chicago Symphony Orchestra, Freddie Hubbard, Curtis Fuller, Joe Locke, Regina Carter ou Kurt Elling, entre outros. Em Guimarães, faz-se acompanhar por um naipe de músicos de grande nível: o trompetista Tito Carrillo, o saxofonista Scott Burns, o contrabaixista Lorin Cohen e o baterista George Fludas.
Em 2021, o Guimarães Jazz volta a cumprir a tradição de encerrar o seu programa com a apresentação das mais competentes orquestras do jazz europeu, cabendo este ano essa responsabilidade à alemã Frankfurt Radio Big Band. Dirigida por Jim McNeely, um prestigiado e experiente arranjador e diretor musical norte-americano, esta formação regressa ao festival oito anos depois de uma primeira presença com o projeto de interpretação das composições de John Abercrombie, e é desta vez engrandecida pela contribuição como solista da jovem saxofonista chilena Melissa Aldana. E assim acontecerá o ponto final de um “ciclo de trinta anos deste festival, celebrados com o ecletismo e a diversidade estilística, geracional e geográfica que são, ou pelo menos assim o acreditamos nós, o presente e o futuro desta música”, de acordo com as palavras de Ivo Martins, programador do festival.
O regresso das essenciais atividades paralelas do festival é marcado pelas exposições “30 anos Guimarães Jazz” que inaugura no Palácio Vila Flor às 18h00 do dia do arranque do festival (11 novembro) – incluindo neste âmbito uma visita orientada à mesma, no dia 13 de novembro pelas 11h00 – e “60/30”, uma mostra de fotografias que invoca a memória das jams sessions que tiveram lugar no Convívio Associação Cultural ao longo das 30 edições do festival e que ocupam um lugar único no coração de todos, de artistas e público. Jam sessions estas, sempre concorridas e vibrantes, que estão de regresso ao Convívio (11 a 13 novembro) e ao Café Concerto do CCVF (18 a 20 novembro), lideradas pelo já referido Ryan Cohan Quintet. Esta mesma formação dirige igualmente as estimadas oficinas de jazz (15 a 19 novembro), que este ano veem também o seu regresso ao festival, proporcionando o contacto direto com um grupo de músicos internacionais que se deslocam propositadamente dos EUA a convite do festival, fixando-se em Guimarães durante duas semanas. As inscrições para as oficinas de jazz encontram-se abertas até 8 de novembro, podendo ser efetuadas gratuitamente através do formulário disponível online.
A programação do Guimarães Jazz terá como epicentro o Centro Cultural Vila Flor ao longo destas duas semanas, contando com vários momentos que levam o festival até ao Centro Internacional das Artes José de Guimarães e ao Convívio Associação Cultural. As assinaturas do festival – acesso a todos os concertos pelo valor de 90 euros, a 3 concertos à escolha por 35 euros ou a 4 concertos à escolha por 45 euros – e os bilhetes para cada um dos concertos (valor individual entre 7,5 e 15 euros) encontram-se disponíveis nas bilheteiras do Centro Cultural Vila Flor, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Casa da Memória de Guimarães e Loja Oficina, bem como nas Lojas Fnac, Worten e El Corte Inglés e online em aoficina.pt.
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Programa
Quinta 11 novembro, 19h30
CCVF / Grande Auditório
The Vijay Iyer Trio
Featuring Linda May Han Oh and Tyshawn Sorey
Sexta 12 novembro, 19h30
CCVF / Grande Auditório
Miguel Zenón Quartet
Sábado 13 novembro, 16h00
CCVF / Pequeno Auditório
WHO Trio
Sábado 13 novembro, 19h30
CCVF / Grande Auditório
Chris Lightcap’s SuperBigmouth
Domingo 14 novembro, 16h00
CCVF / Grande Auditório
Big Band da ESMAE dirigida por Ryan Cohan
Domingo 14 novembro, 19h30
CIAJG / Black Box
Projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz
Inês Malheiro
Quarta 17 novembro, 19h30
CCVF / Grande Auditório
Niels Klein Trio & Orquestra de Guimarães
Quinta 18 novembro, 19h30
CCVF / Pequeno Auditório
Projeto Sonoscopia / Guimarães Jazz
Henrique Fernandes e Joana Sá
Sexta 19 novembro, 19h30
CCVF / Grande Auditório
Black Art Jazz Collective
Sábado 20 novembro, 16h00
CCVF / Pequeno Auditório
Samuel Blaser & Marc Ducret
Sábado 20 novembro, 18h30
CCVF / Pequeno Auditório
Ryan Cohan Quintet
Sábado 20 novembro, 21h30
CCVF / Grande Auditório
Frankfurt Radio Big Band & Melissa Aldana
Atividades Paralelas
Quinta 11 novembro, 18h00
CCVF / Palácio Vila Flor
Inauguração da Exposição “30 anos Guimarães Jazz”
11 a 20 novembro
Convívio Associação Cultural
Exposição “60/30”
Quinta 11 a Sábado 13 novembro, 22h30-00h30
Convívio Associação Cultural
Jam Sessions
Ryan Cohan Quintet
Sábado 13 novembro, 11h00
CCVF / Palácio Vila Flor
Visita Orientada à exposição “30 anos Guimarães Jazz”
Teresa Arêde
Domingo 14 novembro, 18h30
CIAJG
Apresentação dos CD’s Porta-Jazz / Guimarães Jazz 2019 e 2020
Segunda 15 a Sexta 19 novembro, 14h30-17h30
CCVF
Oficinas de Jazz
Ryan Cohan Quintet
Quinta 18 a Sábado 20 novembro, 22h30-00h30
CCVF / Café Concerto
Jam Sessions
Ryan Cohan Quintet
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